Vocês não podem imaginar o espetáculo que vimos em um domingo de sol de agosto em Florianópolis. Eram seis baleias no Morro das Pedras, bem na arrebentação. As adultas aparentemente apostavam corridas e conversavam. Com vultosas partes do corpo fora da água, elas nos olhavam e giravam, suponho que para nos alegrar. Os filhotes pulavam e se debatiam na água como crianças manhosas, mostrando as nadadeiras.
No morro e na praia, havia umas mil pessoas, fora os surfistas que também interrompiam suas façanhas para admirá-las de perto. Uma maravilha. Baleias que chegam a 56 toneladas e medem de 15 a 17 metros. Ao mesmo tempo, tão amigas.
Estão em época de amamentação. Os filhotes não mamam, mas lambem o leite que jorra das mamães, que por ser muito gorduroso não se mistura com a água. Essa característica permite que eles se alimentem, tranquilamente, várias vezes ao dia. São até 200 litros por dia durante quase três meses. Do outro lado, um nobre sacrifício: as pobres mamães não comem durante este período, perdendo entre 15% a 20 % de seu peso.
Levei duas amigas para a observação das baleias francas, o mais novo atrativo de inverno em Florianópolis. Uma delas poeta e pintora, que mora na cidade, e a outra uma conhecida especialista em direito ambiental, que vive em Brasília.
Elas ficaram estupefatas, mas diziam pérolas como: “olha o chafariz delas”. Bem, o “chafariz” em forma de V, próprio da baleia franca, são os orifícios por onde sai dos pulmões o ar aquecido, que pode atingir de 5 a 7 metros de altura. E minhas amigas continuavam: “olha ele (o filhote) voando” ou, ainda, “olha as asas”. Definitivamente, baleias não são aves. “Elas vão encalhar, vamos chamar as autoridades ambientais”. Eu explicava que os animais desta espécie não costumam encalhar. durante a amamentação, ficar na arrebentação é um comportamento para proteger mãe e filhote, pois o último ainda não acumulou gordura para resistir ao frio. “Elas não estão voltando para respirar”, e lá ia eu de novo explicar morrendo de rir: “elas podem ficar até 20 minutos em apneia”.
Foram horas de emoção e divertimento. Em Jurerê, a amiga de Florianópolis já havia avistado, este ano, duas vezes o show das francas. Foi ela que me ligou para avisar sobre a oportunidade. Tornou-se a mais nova whale whatcher de Florianópolis.
As baleias francas estão entre os 10 maiores cetáceos do mundo. A campeã é a baleia azul com até 33metros de cumprimento e 180 toneladas. A azul está à beira da extinção. Recentemente, um grupo de 40 indivíduos foi avistado na costa dos EUA, mas aqui no Brasil desapareceram.
Felizmente, a situação da baleia franca melhora de ano a ano. Principalmente, graças ao Projeto da Baleia Franca idealizado por Ibsen de Gusmão Câmara e iniciado há 30 anos, além de todo trabalho feito na APA da Baleia Franca, cuja sede está em Imbituba-SC. Este ano foram vistas 103 francas em um sobrevoo do pessoal do projeto na costa catarinense.
Desde meu último artigo sobre as baleias aqui em Santa Catarina (O Espetáculo das Baleias) uma coisa é fácil de constatar: cresce rápido o número de turistas interessados no avistamento. Nós os encontramos na Praia da Solidão no começo da temporada, em Gamboa, em Garopaba, em Imbituba e milhares em Florianópolis. Vê-las está se tornando comum. Assim ganha o ecoturismo, o qual também fortalece a proteção da APA da baleia franca.
As autoridades ainda não se importam com o monitoramento na Ilha de Santa Catarina e nem tampouco com esse recurso natural. Entretanto, devido ao interesse que as francas despertam, acabarão tendo de prestar atenção no bicho.
Os turistas precisam de informação diária e online para que possam vê-las sem sair da ilha de Santa Catarina, nossa capital. Talvez o mais importante seja a expansão do Projeto Baleia Franca, em benefício de todos os atores envolvidos e, claro, da nossa nova estrela: a Franca!