Instituição estatal deve elevar volume de crédito em mais de 40% neste ano, enquanto concorrentes vão crescer 15%.Para presidente da Caixa, inadimplência não impede corte no juro, e bancos devem se adequar a novo cenário (Toni Sciarreta)
Isadora Brant/Folhapress O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, na sede do banco em São Paulo |
A Caixa Econômica Federal pretende desbancar o Bradesco, dono hoje da terceira maior carteira de empréstimos do país, ainda antes do fim do ano se os bancos privados perderem clientes se não cortarem juros.
Quem afirma isso, sem citar o nome do rival privado, é Jorge Hereda, presidente do banco estatal que criou juros de 1,5% ao mês no cheque especial em um país em que essa modalidade de crédito tem taxas acima de 8%.
Com R$ 248,5 bilhões em empréstimos feitos, a Caixa prevê crescer mais de 40% neste ano, enquanto os demais deverão crescer até 15%. O Bradesco tinha em março R$ 270 bilhões em crédito.
“Vamos aproveitar esse momento da inércia para ganhar o máximo de clientes que a gente puder. Em breve teremos a terceira maior carteira de crédito do país”, disse, em entrevista à Folha.
Nem a inadimplência crescente, alegada pelos bancos privados como fator que impede a queda nos juros, desanima a Caixa. Enquanto o mercado tem 7,4% de calotes dos clientes pessoa física, o banco tem 4,7% já descontando o imobiliário (neste setor, é de 2,1%). “Não tem essa inadimplência toda que estão falando.” Leia trechos.
Folha – Por que a Caixa pode e os demais bancos não podem reduzir os juros?
Jorge Hereda – As pessoas me perguntam se foi a presidente Dilma [Rousseff] ou o ministro Guido [Mantega] quem mandou. Ninguém nunca me falou: faça uma maluquice e baixe os juros a qualquer preço. O que a Dilma disse para os bancos privados disse aos públicos: estamos vivendo uma outra realidade. É preciso que a sociedade, os empresários e os banqueiros se adaptem e contribuam para que o Brasil, a sexta maior economia do mundo, tenha juros minimamente decentes.
A gente enxergou na queda de juros e nesse chamado do governo uma grande oportunidade para a Caixa.
A concorrência vai chegar a todos os bancos?
Vai demorar ainda para os bancos enxergarem que estamos em outro mundo. Estamos vivendo uma situação semelhante àquela quando apareceu o Plano Real. O Brasil começou a ter uma inflação decente, e agora estamos discutindo juros decentes. Aquela época era um paraíso para os bancos: havia “overnight”, juros altos, os bancos tinham dinheiro na mão -nem tarifa cobravam direito. E todo mundo se adaptou; criaram tarifa para tudo.
Se era fácil, por que a Caixa e o BB não fizeram antes?
Talvez a gente tivesse que ter dado um corte mais radical antes. Quando falo em mudar o modelo, falo não só dos bancos privados, mas dos públicos também. Havia uma acomodação geral. A situação estava boa para todos.
Fazemos agora porque os juros estão baixando e se percebe que é para valer. Esse cenário claro é de agora. (Fonte: Folha de SP)