Fortes chuvas elevaram os níveis dos rios amazônicos, causando alagamentos e tirando milhares de pessoas de suas casas na região. A previsão é de que a situação fique ainda mais crítica. O governo já alertou para o risco de Manaus sofrer sua pior enchente.
O professor de hidrologia da Universidade do Estado do Amazonas Naviano Filizola confirma que as águas da Bacia Amazônica não atingiram seu ponto mais alto e atribui sua subida anormal a uma coincidência rara de picos de cheias dos diferentes rios que a compõem. “É um fenômeno raro. Sempre nos preocupamos que isso acontecesse e parece que agora está acontecendo”, disse em entrevista telefônica ao Globo Amazônia concedida de Tabatinga, no Rio Solimões. Ele viajou para lá para avaliar a extensão do fenômeno. “Aqui o rio está bem cheio, mas ainda não atingiu o pico”.
“Houve concentração muito forte de chuvas em janeiro no alto Rio Marañon, no Peru”, explicou o professor. “No Brasil, as chuvas se concentraram ao longo do Solimões e do Amazonas, e ao longo do Juruá e do Purus. Isso se juntou com a elevação de nível do Rio Negro, que está agora em época de chuvas fortes e coincidiu com o pico de cheia do Rio Madeira”, acrescentou.
O resultado é que enormes massas de água concorrem por toda a bacia, causando enchentes do Acre ao Pará. O local com maior elevação das águas, calcula Filizola, deve ser na altura de Óbidos, no Rio Amazonas, pouco antes de Santarém. “Ali a situação ainda deve se complicar por causa da junção do Amazonas com o Madeira”. Ele calcula que o pico na região seja alcançado em meados de maio.
Além do desastre social, haverá conseqüências para a natureza? Na opinião de Filizola, nada grave, pois apesar das grandes proporções, a cheia é um fenômeno recorrente na Amazônia. “A desse ano talvez seja a maior dos últimos cem anos. A maior dos últimos 60 anos com certeza será. Mas depois, a tendência é voltar tudo ao normal”.
Fonte: Globo Amazônia
Foto: Daniele Gidsicki