Talvez você resista, mas o seu neto ainda vai adicionar insetos à dieta alimentar.

A maior demanda por proteína animal fará com que eles entrem no cardápio de grande parte da população mundial em 2050, prevê a Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO).

Uma empresa brasileira já se prepara para os novos tempos. A Nutrinsecta, produtora de grilos, besouros, baratas e moscas, aguarda certificação do Ministério da Agricultura para que seus insetos, hoje usados na alimentação animal, possam ser consumidos por humanos.

O fundador e sócio da Nutrinsecta, Luiz Otávio Pôssas, admite que a barreira cultural é grande, mas não é impossível de ser superada. “Virá com o tempo”, afirma.

“Quando eu era jovem, todos achavam um absurdo o hábito japonês de comer peixe cru. Esse preconceito não existe mais”, diz o empresário, que criou a cerveja Kaiser e a água de coco Kero Coco.

A certificação abrirá um novo nicho de mercado para os insetos, mas, segundo Pôssas, o foco da companhia deve continuar sendo complementos para ração animal.

No entanto, a Nutrinsecta já está montando um quiosque para degustação na fábrica de insetos, em Betim (MG). A empresa contratou um chef de Santa Catarina especialmente para desenvolver pratos como grilo coberto de chocolate –“parece um Bis”–, insetos à milanesa, ou misturados ao macarrão, como um yakisoba.

“As crianças que visitam o nosso projeto sempre pedem para experimentar”, diz Gilberto Schickler, sócio da Nutrinsecta e zootecnista.

“Não tenho a intenção de estimular ninguém a consumir insetos. Mas quem quiser comer poderá”, diz Pôssas.

EXPORTAÇÃO

Schrickler diz que não será necessário mudar o cardápio do brasileiro para vender insetos a humanos. Ele vê potencial para exportação.

Segundo Pôssas, em mais de cem países os insetos já fazem parte da dieta alimentar. A China é um exemplo.

Os preços, no entanto, ainda estão longe de serem competitivos. A Nutrinsecta vende um quilo de insetos por cerca de R$ 200, em média. “Com escala de produção, esse valor pode cair drasticamente”, diz o zootecnista.

O quilo da picanha, corte nobre bovino, é vendido entre R$ 40 e R$ 50 no varejo de São Paulo, em média.

NA RAÇÃO

O interesse de Pôssas pelos insetos começou por causa de sua criação de aves.

Buscando melhorar a alimentação das espécies, financiou uma pesquisa na Universidade Federal de Minas Gerais, que lhe apresentou a proteína de insetos.

De fácil digestão, ela é mais adequada à alimentação das aves criadas em cativeiro e rendeu bons resultados.

Hoje, a Nutrinsecta produz duas toneladas por mês de insetos, vendidos vivos ou desidratados para a empresa irmã MegaZoo, que faz a ração.

A maior parte é processada até virar uma farinha de proteína consumida por aves, peixes, répteis e primatas.

E, se a barreira para levar o inseto à boca é grande, esse farelo de insetos pode ser a saída para a introduzi-los à dieta. O consumo do inseto inteiro será possível, mas a maior demanda será para esse suplemento alimentar em forma de farelo.

Em congresso realizado no início deste ano, a farinha de proteína de insetos foi apontada pela FAO como eficiente no combate à desnutrição.