plataforma-pre-salArtigo de David M. Lapola, da Unesp de Rio Claro

Tornou-se senso comum que os debates políticos sobre meio ambiente no Brasil passem sempre pelo assunto Amazônia. É inegável que o problema das altas taxas de desmatamento do bioma que traziam vergonha ao país desde a década de 80 e passaram incólumes pelos governos Sarney, Collor, Itamar Franco e FHC, foi atacado de maneira séria apenas no governo Lula: temos de fato uma significativa redução no desmate, passando de uma média de aproximadamente 20mil kmao ano no final dos anos 90 e início dos anos 2000, para os atuais 5,8 mil km2/ano – um redução de 75%. Mas vale lembrar que Marina Silva era então a Ministra do Meio Ambiente que capitaneou o bem-sucedido plano para redução do desmate da Amazônia com outros 13 ministérios. A discussão entre as equipes de Marina e Dilma nos últimos dias acerca do aumento no desmatamento na Amazônia no último ano é irrelevante neste momento e acaba confundindo o eleitor ao apresentar uma porcentagem (29%) e não um número absoluto (1320 km2) do aumento entre 2012 e 2013. Fica claro que em vista da tendência de longo prazo mencionada acima esse aumento é pequeno.

Mas o debate ambiental não se encerra por aí. O pré-sal é outra importante encruzilhada ambiental para o país e trata-se de um tema sobre o qual Dilma e Marina têm divergido bastante. Marina quer tirar o foco do pré-sal e voltar a erguer a bandeira do etanol brasileiro e fornecer incentivos à outras fontes de energia limpa como eólica e solar. Dilma argumenta que os royalties gerados com a exploração do pré-sal farão falta para a educação – educação esta que carregará nas costas a emissão anual de 635 toneladas de CO2 por ano devido à queima do petróleo do pré-sal, contribuindo para afetar a vida de bilhões de pessoas no países mais pobres (que sofrerão com extremos climáticos mais frequentes) e a perda de bilhões dólares devido associadas às mudanças climáticas. Frequentemente se ressuscita então o argumento de que os países desenvolvidos queimaram muito petróleo e que agora é a nossa vez. Mas o Brasil reúne todas características para ser de fato – e não apenas num plano de governo – um líder mundial na questão de sustentabilidade ambiental e dar o exemplo de um novo paradigma sócio-econômico-ambiental para os outros países em desenvolvimento. Incorporar efetivamente o uso sustentável da mega-biodiversidade brasileira na economia do país – assunto já fomentado nos corredores ministeriais de Dilma, mas que recebe mais atenção no plano de governo de Marina – é um excelente começo para inaugurar esse novo paradigma.

Vale lembrar que no governo Dilma foi aprovada uma nova versão do Código Florestal, e com ela uma vexaminosa anistia a desmatamentos passados que a presidenta havia prometido vetar durante a campanha presidencial em 2010.

Mesmo se tratando de duas candidatas oriundas do mesmo governo Lula – e preferências pessoais à parte – fica difícil para Dilma bater Marina no assunto sobre o qual esta última construiu seu nome.

David M. Lapola é professor de Política Ambiental e Mudanças Climáticas do Departamento de Ecologia da Unesp de Rio Claro.

Este artigo foi publicado originalmente no Estadão Noite de 24 de setembro de 2014.