As Pirâmides de Gizé estavam praticamente desertas neste domingo (20). Esta situação dos símbolos do poder e da cultura dos Faraós, mostra bem o dano que os distúrbios políticos recentes causaram ao turismo egípcio, pilar da economia do país.
Apenas cerca de 25 turistas estrangeiros foram vistos por volta do meio-dia junto aos monumentos, onde milhares se ajuntavam diariamente –antes dos protestos de janeiro e fevereiro, que acabaram por derrubar o ditador Hosni Mubarak.
Mas pode-se dizer que o Egito, agora governado por militares, é um país calmo agora. Campanhas do governo afirmam a segurança para o turismo, apesar de um levante de protestos trabalhistas, que vieram depois da renúncia do presidente, em 11 de fevereiro –quando também ocorreu o estupro e espancamento da jornalista da CBS Lara Logan.
Khalil Hamra – 20.fev.2011/AP | ||
Alguns dos poucos turistas passeando pelas Pirâmides de Gizé neste domingo (20) |
Oficiais do governo da área de Antiguidades informaram que todos os locais com atrações faraônicas, coptas, islâmicas e modernas reabriram neste domingo. Seis museus no Cairo, Luxor e Aswan, todas junto ao rio Nilo, também reabriram, e outros museus planejam fazer o mesmo em breve.
O bem guardado Museu Egípcio, junto da praça Tahrir, no Cairo, palco das principais manifestações, foi um dos que receberam seus primeiros visitantes após a crise –durante os distúrbios, teve pequenos artefatos roubados.
No auge da crise, veículos militares chegaram a bloquear o acesso às Pirâmides, no deserto próximo do Cairo. Mas elas reabriram em 9 de fevereiro, recebendo um punhado de visitantes estrangeiros que ignoraram as recomendações de seus governos.
OUSADOS
“Eu queria ver esta maravilha do mundo”, disse o professor britânico de geografia Paul Davis, que tinha reservado sua viagem de férias no Egito em novembro e quase a cancelou. “Pensei que valia a pena o risco”, concluiu ele. “Por que não?”.
Davis contou que chegou no sábado (19) e hospeda-se em um hotel próximo ao aeroporto, por precaução. E quer mostrar vídeos aos seus alunos –que brincavam: “Esperamos não ter que ir te resgatar depois”.
Ele tinha seus receios sobre o comportamento do povo local, mas ficou mais tranquilo algum tempo depois de aterrissar.
Outro visitante era Frank van Dalen, de Amsterdã, Holanda. O caso dele foi inverso: ele reservou a viagem logo após a queda de Mubarak. “Posso encontrar uma praia em qualquer lugar, mas não uma revolução”, declarou ele.
Hussein Malla – 20.fev.2011/AP | ||
Visitantes caminham pelo Museu Egípcio, no Cairo, um dos locais que reabriram neste fim de semana |
PREJUÍZO
O Egito estimou o total de perda durante os conflitos em mais de 10 bilhões de libras egípcias (US$ 1,7 bilhão), sendo mais da metade ligada ao turismo.
A central de estatísticas do governo diz que cerca de 210 mil turistas fugiram só na última semana de janeiro, o que custou ao Egito cerca de US$ 178 milhões. Mas os cancelamentos de fevereiro acrescentam uma perda de US$ 825 milhões.
O turismo conta por entre 5% e 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo diferentes estimativas. O setor emprega no país cerca de 2 milhões de egípcios.
Alguns turistas aproveitam os descontos feitos na tentativa de atraí-los. Um casal alemão junto às Pirâmides disse que comprou uma viagem de uma semana, incluindo voos, hotéis e refeições, por apenas 500 euros (US$ 685).
Até hotéis quatro estrelas chegam a cobrar US$ 20 ou US$ 30 a diária, mas a regra geral é estarem vazios por todo o país.
fonte: Folha de São Paulo