A abertura foi realizada pelo prefeito de Salvador, ACM Neto

Como produzir e consumir hoje sem gastar os recursos que as próximas gerações vão precisar? Esse dilema, que resume a definição de sustentabilidade, foi o tema do Agenda Salvador, ontem (11), no auditório da Fieb – Federação das Indústrias do Estado da Bahia. O evento, gratuito, foi realizado pelo CORREIO, com apoio da Prefeitura de Salvador e da Câmara Municipal.

A abertura foi realizada pelo prefeito de Salvador, ACM Neto. Em seguida, participaram Paulo Câmara, presidente da Câmara de Vereadores, Ricardo Voltolini, diretor-presidente da consultoria Ideia Sustentável, José Guilherme Barbosa, superintendente do Sebrae de Mato Grosso, e Léo Prates, vereador e presidente da Comissão Especial de Desburocratização e Incentivo ao Empreendedorismo.

O paulista Ricardo Voltolini, 51 anos, que fez a apresentação da palestra sobre liderança sustentável, disse que os melhores líderes se preocupam e põem em prática os princípios da sustentabilidade. Além disso, vislumbram o lucro “autêntico”, sem prejuízos às pessoas nem ao ecossistema: “A sustentabilidade é um novo jeito de fazer negócios com ética, transparência, responsabilidade e respeito ao meio ambiente”.

Respeitar os direitos trabalhistas, portanto, é também ser sustentável. Investir na educação dos funcionários ou na formação dos filhos deles também conta pontos no caminho rumo à sustentabilidade. “Para a professora infantil, plantar uma árvore com os alunos é sustentabilidade. Para uma prefeitura, espalhar cestas de lixo é sustentabilidade. Mas não se pode resumir a isso”, diz Voltolini.

José Guilherme Barbosa, carioca, 67, é um dos responsáveis pelo Centro Sebrae de Sustentabilidade, que é instalado em Cuiabá. O prédio da unidade, que hoje é referência no assunto, foi construído de acordo com os princípios da construção sustentável.

José Guilherme disse que pôr a sustentabilidade em prática não significa aumento de custos e até, em alguns casos, pode alavancar os lucros de uma organização: “Tanto é que muitas empresas hoje usam a sustentabilidade como ferramenta de marketing e isso dá resultados positivos”.
Voltolini afirma que, no setor privado, há muitas empresas brasileiras que têm tido iniciativas de sustentabilidade: “Há, inclusive, alguns líderes em seus setores que têm práticas comparáveis a empresas europeias, que são referência. Os bancos, por exemplo, adotam critérios socioambientais para liberarem empréstimos ou financiamentos às empresas”.

Mas Voltolini, que é consultor em sustentabilidade empresarial, registra que, por outro lado, há casos dignos de causar vergonha a multinacionais. Como exemplo, ele cita o caso da Volkswagen, envolvida em um caso de de falsificação de resultados de emissões de poluentes. A empresa instalou em 11 milhões de carros um software que fraudava testes ambientais.

As multas à empresa podem chegar a US$ 18 bilhões, o equivalente a quase R$ 70 bilhões: “A instituição desconsiderou esses elementos distintivos de sustentabilidade. Além de ter um prejuízo financeiro, terá um enorme prejuízo à sua imagem. O pior: a adulteração foi uma atitude deliberada da empresa”.

José Guilherme dissse que não apenas as instituições privadas, mas até a Igreja Católica tem se preocupado com sustentabilidade: “Embora seja considerada tradicional, a Igreja, por meio do papa Francisco, criou uma encíclica este ano sobre o meio ambiente. E esse documento se tornou referência também na realização de negócios entre empresas privadas”.

As discussões do Agenda Salvador, no entanto, não se restringiram ao universo da iniciativa privada. O impacto da sustentabilidade nas gestões municipais também foi debatido.

Cidade
Voltolini analisa o papel dos gestores municipais e o compara ao dos administradores das empresas: “Claro que o município tem um olhar diferente, mas parte da mesma lógica de uma empresa quando começa a entender seus próprios compromissos. Os políticos administram a coisa pública e devem estar atentos, por exemplo, a uma gestão responsável da água, da área verde, da mobilidade urbana, que atingem diretamente a vida dos cidadãos”.

O consultor lamenta, no entanto, que nenhuma cidade brasileira seja um exemplo quando se fala em sustentabilidade: “Nenhum município brasileiro é uma Copenhague, que é referência no mundo. Mas o Rio de Janeiro, embora tenha problemas, está num bom caminho, investindo em mobilidade urbana e no equilíbrio da área verde”.

Voltolini destaca ainda a cidade de Curitiba: “Entre as grandes cidades brasileiras, é a que emite, proporcionalmente, a menor quantidade de gases poluentes. E sua área verde atinge o índice determinado pela ONU”.

Um exemplo de atitude sustentável que pode ser praticada pelos gestores municipais é, segundo José Guilherme, estimular a compra de serviços e produtos oferecidos por empresas locais, conforme determina a Lei Geral das Microempresas, de 2006.

“O consumo de produtos e serviços locais favorece uma série de fatores, como o estímulo à geração de empregos. Além disso, há a questão ambiental: comprando-se de fornecedores locais, diminui-se, por exemplo, o consumo de combustível e, por consequência, polui-se menos”.

Fonte: correio24horas.com.br