Em obra recém-lançada, Pedro Brito defende modelo, mas reconhece problemas
PAÍS, 8ª ECONOMIA DO MUNDO, OCUPA 41º LUGAR DE RANKING MUNDIAL DE PORTOS |
AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO
Leitor, você sabia que de 2007 a 2010 o Brasil escalou 20 posições no ranking de desempenho em logística portuária numa pesquisa feita em 155 países? Mais: que isso trouxe o Brasil, oitava economia do mundo, da vexatória 61ª colocação para a pouco menos vexatória 41ª da lista? Avanço inegável, mas insuficiente. Sobretudo quando a Lei de Modernização dos Portos, de 1993, está prestes a completar a maioridade.
Esse “avanço” abre o livro “Muito a Navegar – Uma Análise Logística dos Portos Brasileiros”. O texto é assinado por Pedro Brito, ex-secretário Especial de Portos, um cearense do círculo de influência de Ciro Gomes. O trabalho tem pósfácio elogioso de Antonio Delfim Netto. O principal mérito do trabalho é reconhecer como o Estado brasileiro organiza mal seus portos e sua logística. Pois é para garantir a “eficiência logística” do país que a obra pode contribuir.
Brito lembra que houve no governo Lula a ideia de criar um Ministério de Logística. O plano era ter uma pasta que tratasse portos, estradas, ferrovias como sistema de escoamento da produção brasileira ou canal eficiente para receber bens do exterior.
A ideia jamais prosperou.
A criação da Secretaria Especial de Portos, embora importante para os portos, ampliou a divisão. Hoje, o Ministério dos Transportes cuida das ferrovias e das estradas, que bem ou mal desembocam nos portos.
“Não podemos ir construindo estradas ou ferrovias sem a preocupação com a inteligência logística, sem pensar em criar redes, sem pensar em intermodalidade e na conectividade dos portos com outros modais”, diz.
MODELO
O livro faz uma defesa do modelo portuário adotado no país: administração pública da área do porto organizado com gestão privada dos terminais instalados ali.
Ele revela que houve lobbies para mudar esse modelo, que julga ser o melhor para um país como o Brasil. Interesses, aliás, é que o mais existe num porto. Afinal, por ali passa a economia do país.
O livro ajuda o leitor não iniciado (o ex-secretário de Portos também não era quando virou ministro) a entender melhor o funcionamento dos portos. Traz muitas informações sobre as estruturas, mas deixa de lado uma questão importante: a social no entorno dos portos.
O porto de Santos é exemplo. Responsável por 25% de todo o comércio exterior brasileiro, o porto santista ainda convive com uma realidade social vergonhosa.
Duas ocupações convivem com os navios Panamax (de 60 mil toneladas) que cruzam o estuário diariamente.
Talvez fosse o caso de incluir um capítulo na obra sobre a brutal realidade social dos portos brasileiros, tendo como exemplo dessa falência as palafitas em Santos.
Ocupação, aliás, que um dia acolheu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viveu com a mãe e os irmãos no distrito de Vicente Carvalho, no lado do Guarujá.
Tudo somado, a obra tem méritos. Terá mais se o sucessor de Brito na Secretaria de Portos, o também cearense (ex-prefeito de Sobral), Leônidas Cristino, decidir lê-la. Quem sabe não se anima a escrever um livro ali adiante para dizer que o país chegou à posição de “top ten” dos portos mundiais. Como diz Brito, há “muito a navegar”.
MUITO A NAVEGAR: UMA
ANÁLISE LOGÍSTICA DOS
PORTOS BRASILEIROS
AUTOR Pedro Brito
EDITORA TopBooks
QUANTO R$ 39 (136 págs.)
fonte: Folha de São Paulo