Antauro, irmão do presidente peruano, luta para escapar de pena de 25 anos

Alexis, outro irmão seu, foi repreendido por se apresentar na Rússia como um representante do governo peruano

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Recém-empossado presidente do Peru, Ollanta Humala, 49 anos, tem diante de si um país cheio de conflitos sociais. Mas não é esse seu principal problema hoje, e sim o comportamento dos próprios familiares.
Membros do clã Humala têm deixado claro que, se o filho presidente quer agora se mostrar um homem democrata, o mesmo não se passa com eles.
Para Gustavo Gorriti, autor de “A História de uma Guerra Milenar no Peru”, a família será sempre um fator de distúrbio. “Mas ele já sabia disso, e seus eleitores também”, diz.
Primeiro, foi o irmão mais novo, Alexis, 46, que viajou à Rússia apresentando-se como representante do governo peruano e tentando fechar negócios.
Foi repreendido por Ollanta Humala, que viu sua popularidade cair de 70% para 41%, por conta da repercussão do caso.
Agora, o presidente enfrenta a revolta de outro irmão, Antauro, 48, que pede para sair da cadeia.
Antauro cumpre pena de 25 anos por ter comandado um ataque a uma delegacia de Andahuaylas, em 2005. A ação tinha como objetivo forçar a renúncia do então presidente Alejandro Toledo. Seis pessoas morreram.

ETNOCACERISMO
Antauro e Ollanta atuaram juntos várias vezes, sob orientação do pai, Isaac, criador do “etnocacerismo”.
Trata-se de um movimento político ultranacionalista, que mistura militarismo e indigenismo. Os etnocaceristas evocam o período de hegemonia do Império Inca e têm como referência também o “socialismo militar” do general Velasco Alvarado (1968-1975).
O nome homenageia o general Cáceres, herói da luta peruana contra o Chile, durante a Guerra do Pacífico (1879-1883), em que peruanos e bolivianos foram derrotados.
Em 2000, Antauro e Ollanta participaram de um levante contra Alberto Fujimori e em defesa da Constituição de 1979. Na sua posse, Ollanta jurou essa carta, em detrimento da implementada pelo ditador, em 93.
Para convencer a sociedade de que merece a liberdade, Antauro evocou o episódio: “O presidente jurou a Constituição de 1979, portanto nós que sempre a defendemos devemos estar livres”.
Antauro tem o apoio do pai, que é advogado. Isaac insiste que seu filho praticou o delito de sedição, e que não é um delinquente comum.
Sua defesa tenta também provar que ele não portou armas durante a ação. No próximo dia 26, a Justiça avaliará uma possível redução de sua pena.
Ollanta já declarou que deixará a decisão nas mãos do poder judicial.

IMAGEM NEGATIVA
Segundo pesquisa recente, 76% dos peruanos são contra a liberação de Antauro. “A imagem que se tem dele é a de um homem irracional, extremo, nazista”, diz Gorriti.
O escritor Santiago Roncagliolo, autor de uma biografia de Abimael Guzmán, conclui: “Para enfrentar Keiko Fujimori, Ollanta mostrou que colocaria a institucionalidade por cima dos parentes. Num governo obrigado ao consenso, ele tem muito a perder com qualquer deslize da família”.

 

Fonte: Folha