Vinte e dois dos municípios que mais desmatam estão entre os cem mais violentos do País
O assassinato de quatro conservacionistas no Pará e em Rondônia, nos últimos sete dias, resgatou uma infeliz estatística. Entre os municípios que mais desmatam na Amazônia, 22 estão também entre os cem mais violentos do país. Nova Ipixuna é um deles. Localizado no sudeste do Pará, onde foram torturados e mortos o casal de catadores de castanha José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, na terça-feira passada, e, três dias depois, o agricultor Erenilton Pereira dos Santos, ali o índice de homicídios é 65,3 por cada grupo de 100.000 habitantes. O município está em 64º lugar no ranking de assassinatos elaborado pelo Mapa da Violência 2011. Morto em Porto Velho, Rondônia, na segunda-feira, o líder sem terra Adelino Ramos, era um sobrevivente do massacre de Corumbiara, ocorrido em 1995. Moradores de assentamentos, o casal de conservacionistas e o sem-terra haviam denunciado insistentes vezes a ação de madeireiros ilegais e sofriam constantes ameaças de morte. Já Erenilton teria testemunhado a fuga dos pistoleiros que mataram o casal.
Suas mortes foram eventos que podem ser considerados previsíveis. Um relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Igreja Católica, apontou que, entre 2000 e 2011, foram mortos 42 agricultores. Todos haviam sofrido ameaças antes. Dezesseis dos casos ocorreram no Pará. O pior lugar, em termos proporcionais, é Itupiranga. Com 42.600 habitantes, ali foram mortas 68 pessoas em 2008, ano da contagem mais atualizada. A cidade paraense é a primeira do Brasil em homicídios. Já Marabá, 200.000 habitantes e 250 vítimas ao ano, é a maior das cidades violentas da Amazônia, ocupando o quarto lugar. Um plebiscito irá determinar se Marabá será a futura capital do estado de Carajás, um desmembramento do Pará, como ocorreu com Tocantins e Goiás. Se Carajás nascer, de saída terá a capital mais violenta do país, roubando o atual título de Maceió, em Alagoas, em oitavo lugar.
Para o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, a razão para tal quadro não estaria, necessariamente, na ausência do poder público. “Onde há desmatamento descontrolado, o poder do estado foi cooptado”, diz. O resultado é uma situação de conflito quase permanente na região conhecida como Arco do Desmatamento, uma linha demarcada por queimadas e moto-serras que avança do Maranhão e Pará até o Acre, passando por Rondônia e norte do Mato Grosso. Ali, as madeireiras expulsam seringueiros, posseiros e índios. “Quem se opõe, é eliminado. Quem fica tem que concordar”. Um dos resultados infames é o recrutamento para o trabalho escravo na extração de madeira dentro da floresta e a produção de carvão.
Esta semana, em Nova Ipixuna, fiscais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), com escolta da Polícia Federal, localizaram treze áreas recentes de desmate de floresta. Perto dos limites da cidade existem seis madeireiras. Com apenas 14.800 habitantes, Nova Ipixuna é o terceiro menor município entre os lugares mais perigosos da Amazônia. Em termos populacionais, o pior lugar é Nova Bandeirante, no Mato Grosso, com 13.400 habitantes e 64,6 mortes registradas.
A correlação entre desmatamento e violência foi feita pela primeria vez em 2006, por pesquisadores da Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OIE) e do Ministério da Saúde. Eles cruzaram dados do Mapa da Violência com os do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélite – Projeto Prodes. Dos 100 mais desmatados, dezesseis estavam entre os mais violentos. Hoje, 22 municípios da região estão nesta conta. À época, a recordista de desmatamento eram São Félix do Xingu, com 16% de área desmatada e em 139º no ranking das mortes. Em segundo lugar vinha Paragominas, em um mais distante ainda 373º lugar e 44% de desmatamento. Hoje, Paragominas está em 51º no Mapa da Violência. São Felix e Paragominas ficam no Pará.
O governo federal deve utilizar a Força Nacional para auxiliar os estados onde os crimes têm ocorrido com mais freqência.
Fonte: VEJA