Brasil quer fazer novo cabo submarino até Europa para reduzir dependência dos EUA no tráfego de dados e baixar preço de conexão

SOFIA FERNANDES
DE BRASÍLIA

O Brasil planeja a construção de um novo cabo submarino para tráfego de dados até a Europa e a África, cruzando o Atlântico. Hoje, mais de 90% da conexão de internet no país passa pelos Estados Unidos, e escapar dessa dependência é o objetivo do governo.
Sete cabos submarinos ligam o país ao exterior, sendo cinco até os Estados Unidos e apenas um até a Europa, que é antigo e precário e tem a capacidade de tráfego comprometida.
Há outro pequeno cabo que vai de Florianópolis até o Uruguai. Essa trama é a estrutura que o Brasil dispõe para se conectar a servidores espalhados mundo afora.
Atualmente, toda conexão internacional de alto desempenho da América do Sul até a Europa ou África circula fisicamente por cabos que vão primeiro até os EUA. Assim, a velocidade da rede acaba prejudicada por aqui.
Dessa forma, a América do Sul é a única região que praticamente só possui uma interligação intercontinental relevante. Todas as outras regiões, incluindo a África, possuem mais de uma conexão direta.
O governo trabalha com a hipótese de construir o cabo para a Copa de 2014, como fez a África do Sul quando sediou o mundial de futebol em 2010, com um cabo que percorre toda a costa oeste do continente até Portugal.
O projeto do novo cabo brasileiro prevê a sua saída de Natal (RN) até Fernando de Noronha, de lá até Cabo Verde, para se unir à estrutura construída pela África do Sul, que vai até Portugal.
Com essa nova porta de saída e entrada de dados, técnicos do governo apostam em ganhos de velocidade e barateamento do custo da internet no Brasil. Foi assim na África do Sul, onde investimento da ordem de US$ 700 milhões geraram ganhos de velocidade e preços mais baixos de internet.
A instalação de um cabo desse porte leva cerca de um ano. O custo é alto, mas seguro -o governo estima que um empreendimento desse porte se pagará em menos de três anos.
Ainda não há orçamento fechado. Um consórcio europeu, liderado pela Itália, está preparando estudo de viabilidade econômica para o cabo. Durante o 3º Diálogo Brasil-União Europeia sobre Sociedade da Informação, em 2010, em Bruxelas, acordou-se que os estudos devem ser concluídos neste ano.
Representantes de Angola também já manifestaram ao ministro das Comunicações interesse em uma interconexão direta.

ESTRATÉGIA
O governo americano considera os cabos de comunicação submarinos brasileiros estruturas vitais para a segurança nacional, como relata documento vazados pelo site WikiLeaks no fim de 2010.
A diplomacia brasileira trata o novo cabo extremamente estratégico. Além de ser uma questão de segurança e soberania, é importante para redução de custos. Hoje, estima o governo, 30% da conexão interna do Brasil tem que passar pelos EUA, além das conexões com vizinhos, como Argentina, o que torna tudo mais caro.
Por isso o Brasil prospecta parcerias na América do Sul. Em janeiro foi assinado acordo com a Argentina para, até 2013, implementar ponto de troca de tráfego na fronteira. Uruguai, Chile e Venezuela também estão interessados nessa parceria estratégica.
O Brasil está atrasado na busca de criar uma rede de interconexão própria. Europa e África já fizeram seu movimento de criar conexões alternativas aos Estados Unidos há anos. Segundo o Itamaraty, não há indisposição do governo americano na criação do novo cabo.

Fonte: Folha de São Paulo