Figura midiática na Colômbia, ele já cantou rap e trocou fiscais de trânsito por mímicos nas ruas de Bogotá quando era prefeito da capital colombiana.
Agora, o excêntrico Antanas Mockus, 58, é a principal notícia do país de Álvaro Uribe por uma façanha: de azarão, no começo do mês, ele alcançou o candidato favorito governista, e, segundo a última pesquisa, ganharia a eleição presidencial no segundo turno.
O fenômeno Mockus foi batizado de “maré verde” –ele concorre pelo Partido Verde– e tem empolgado jovens no Facebook com um programa de governo vago e um discurso grandioso (“Sinto que tenho a capacidade de transformar profundamente nossa sociedade”) envolto numa mensagem simples: “chega de vale-tudo”.
Depois de escândalos políticos que marcaram os últimos anos –em especial o elo de parlamentares com paramilitares, que varreu um terço do Congresso–, o ex-prefeito atrai por ser um “outsider” do sistema de partidos e por ter localizado um centro político, fora da polarização entre o popular Uribe e seus detratores.
O matemático de origem lituana, que fez duas bem avaliadas administrações em Bogotá, começou a decolar justamente quando se uniu a um outro “outsider”, o ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo.
Até então candidato à Presidência com cerca de 10% das intenções de voto, Fajardo topou ser seu vice após não conseguir eleger nenhum deputado nas eleições de março.
“É um momento mágico”, derramou-se Fajardo à Folha, anteontem, ao acompanhar Mockus em Santa Marta, no Caribe colombiano. “Mostramos que sim, podemos”, continuou, emulando o slogan já lugar-comum de Barack Obama.
“Mockus é um fenômeno de opinião pública. Parte do país está mostrando que quer algo novo, sem os vícios da política atual e sem perder as conquistas de Uribe de segurança”, resume a jornalista Juanita León, autora de “País de Plomo” (país de chumbo), sobre o conflito armado colombiano, e diretora do site La Silla Vacía.
A questão da segurança é a outra chave da “maré verde”. Os governistas espalham na internet que não se derrota as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) “com girassóis e mímicos”, mas Mockus tem várias posições próximas do governo no setor.
Como Uribe, ele é contra negociar com as Farc. Prega “legalidade democrática”, resposta à uribista “segurança democrática”, criticada por violações de direitos humanos e pelo controverso ataque à guerrilha no Equador, em 2008. Mockus diz que não caçará guerrilheiros no exterior e que será “prudente” com Hugo Chávez, às turras com Bogotá há anos.
Na economia, também há aproximações com a atual gestão. Quer vender 15% das ações da estatal Ecopetrol para criar um fundo educacional –a educação é outra bandeira de campanha, acenando ao pós-uribismo– e é a favor do Tratado de Livre Comércio com os EUA.
Já a plataforma verde que batiza a onda é incipiente. Mockus aderiu só em setembro passado ao Partido Verde, de DNA ecológico frágil. “Vamos trabalhar para tornar mais verde nosso partido”, diz Fajardo.
As eleições são em 30 de maio, e Mockus já fala em ganhar no primeiro turno –se conseguir, terá como bancada própria só oito parlamentares.
O desafio é conquistar a “Colômbia profunda”, uma incógnita, já que, em geral, as pesquisas só abrangem a área urbana.
O que hoje parece improvável não é algo inédito. Uribe começou como azarão e conseguiu ser eleito em 2002.
FSP