A ambientalista brasileira e ex-senadora Marina Silva foi apontada como Membro Honorário da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) por sua contribuição inspiradora para a conservação da natureza. A nomeação foi anunciada em 11 de setembro, em Jeju, Coreia, durante solenidade no Congresso Mundial de Conservação.

Realizado há cada quatro anos, o Congresso Mundial de Conservação, que ocorre de 6 a15 de setembro, reúne governos, cientistas, empresários, líderes comunitários e representantes de povos indígenas e organizações não governamentais de todo o mundo para discutir o status da conservação e as soluções que a natureza oferece para muitos dos problemas da atualidade.

Claudio Maretti, membro brasileiro do Conselho Global da UICN e líder da Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF, recebeu o prêmio em nome da ambientalista e leu a mensagem de Marina Silva aos participantes do Congresso (na íntegra, abaixo).

Uma vida dedicada à Natureza

Marina Silva tem estado na linha de frente na defesa do meio ambiente, das florestas tropicais, das comunidades locais e do desenvolvimento sustentável. Nascida em uma comunidade rural de seringueiros, ela se envolveu intensamente com o Movimento dos Povos da Floresta, que trouxe à luz a luta pela terra na Amazônia e os riscos e consequentes impactos para as comunidades locais e florestas, e contribuiu para o aumento da conscientização da sociedade brasileira sobre o desmatamento. O movimento também propôs o conceito de Reservas Extrativistas, e promoveu o que hoje é conhecida como a categoria VI das áreas protegidas, na classificação da UICN. Em sua carreira política, Marina Silva se tornou senadora federal, tendo apresentado inúmeras propostas em defesa do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. Por mais de seis anos, foi ministra do Meio Ambiente do Brasil.

Contribuições

Como ministra, Marina Silva desenvolveu o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia, considerado um marco na forma como o desmatamento da Amazônia começou a ser enfrentado, e criou uma nova forma de gestão pública para lidar com o desmatamento no Brasil.
Durante esse período, o Brasil foi responsável por mais de 2/3 de todas as novas áreas protegidas terrestres que foram criadas no mundo. Como ministra, ela também liderou o Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), a maior iniciativa de conservação da biodiversidade no mundo – que visa proteger 60 milhões de hectares em áreas protegidas.

Mensagem de Marina Silva à UICN, durante Congresso Mundial de Conservação 2012

É um grande prazer ter a chance de me tornar membro honorário da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), uma organização pioneira, que desde 1948 se distingue por sua vanguarda e por sua cada vez mais necessária visão, tanto da proteção dos recursos naturais quanto da nossa fabulosa, mas tão ameaçada, biodiversidade global.

Entendo este convite como um reconhecimento mais amplo do trabalho socioambiental e histórico que tem sido realizado por todas as mulheres e homens no Brasil e na América Latina, muitos deles membros das comunidades tradicionais da Amazônia e de outros biomas e também ambientalistas anônimos, além das nossas ONGs ambientais, formadores de opinião e comunidade científica.

Vivemos tempos difíceis, já que as perspectivas globais de conservação da natureza não são realmente alentadoras. Junto com a gravidade da crise climática e da degradação dos ecossistemas, tem havido uma tendência crescente de retrocesso na governança ambiental nas últimas décadas, tanto no Brasil quanto em outros países.

Além da crise ambiental, também estamos vivendo uma profunda crise econômica e social global, cujo indicador mais dramático são os 2 bilhões de pessoas que vivem em pobreza absoluta.

Acredito que todas essas crises específicas, juntas, fazem parte de uma maior, relacionada com a nossa própria civilização, e seu ponto de partida é uma crise de valores que gera todas as outras, e que coloca em campos separados a economia da ecologia, a ética da política, e o crescimento da equidade.

Mas nós precisamos continuar acreditando nas pessoas. Pessoas que têm construído a UICN, desde o seu início, há muitos anos, durante essas desafiadoras décadas, e também as pessoas anônimas das florestas, das zonas costeiras, das ruas, das cidades, que lutam para viver na verdadeira economia ecológica, na inestimável ética política, e solidariedade. Precisamos acima de tudo, difundir os valores de sustentabilidade entre as gerações mais jovens, para que a cultura da sustentabilidade torne-se um forte legado para o futuro de nosso planeta.

Eu percebo a extrema relevância do atual Congresso Mundial de Conservação, que mantem a importância de eventos anteriores da UICN e, de fato, está superando nossas expectativas.

Obrigada. Esperamos ver todos vocês. em breve, na America Latina, no Brasil, na Amazônia.

Marina Silva

Fonte: WWF Brasil