Prata dobrou de valor estimulada por novas aplicações; ouro atingiu maior valor nominal com queda do dólar
Usado na rede elétrica, cobre seguiu avanço dos países emergentes e subiu 40% com deficit entre oferta e demanda
TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO
A recuperação da economia mundial, puxada pelos emergentes, e a queda do dólar fizeram de 2010 um ano marcado por forte alta no preço das commodities.
Em alguns casos, as cotações praticamente dobraram. A prata, por exemplo, subiu 90% e chegou ao final de 2010 cotada a US$ 30,92 por onça-troy (31 gramas).
Os metais preciosos atingiram o maior patamar em décadas, estimulados pelo câmbio, pelas incertezas sobre o desempenho dos países desenvolvidos e pelos estímulos à economia dos EUA.
O ouro subiu 31% no ano e atingiu US$ 1.420 a onça em dezembro. “O ouro é considerado um metal com valor intrínseco, por isso a demanda cresce em momentos de incerteza”, diz Cristiane Mancini, analista da Lafis.
Mas a valorização dos metais preciosos não tem origem apenas no mercado financeiro. A procura cresce também devido aos novos usos para esses produtos.
A prata, por exemplo, está sendo utilizada na construção de painéis para geração de energia solar. Segundo estimativas do banco de investimentos Barclays, somente nesse segmento a demanda por prata pode quadruplicar nos próximos cinco anos.
A China é um dos países que têm produzido esses painéis em larga escala. Apesar de ser o terceiro maior produtor de prata do mundo, o país asiático tornou-se importador líquido do metal.
No caso do ouro, a interrupção das vendas pelos bancos centrais -estimulada pela queda do dólar- afetou a oferta do metal. Do outro lado, a demanda mundial para a produção de joias cresceu cerca de 5% em 2010, após queda de 20% em 2009.
METAIS BÁSICOS
Dezembro foi marcado por uma disparada nos preços do cobre. O contrato para três meses na LME (Bolsa de metais de Londres) atingiu o recorde de US$ 9.600 por tonelada, alta de 40% no ano.
A valorização reflete o deficit na relação entre oferta e demanda -que ficou em 449 mil toneladas em 2010 e pode chegar a 825 mil neste ano.
Usado na construção civil e em aplicações elétricas, como em cabos da rede de distribuição de energia, o cobre acompanha o crescimento das economias emergentes.
O alumínio, candidato a substituto do cobre em cabos de força, também é mais procurado e apresentou uma recuperação de preços, mas ainda modesta. No ano, a alta foi de 8% na LME.
MINÉRIO DE FERRO
A forte demanda chinesa garantiu um ano de alta para os preços do minério de ferro. No mercado à vista da China, referência para o produto, o minério com 62% de teor de ferro subiu 42% em 2010, para US$ 170 por tonelada.
Mas o preço praticado nos contratos da Vale, uma das principais mineradoras do mundo, chegou a subir 100% em um único trimestre.
Em 2010, houve mudanças no sistema de precificação do metal, e os reajustes praticados pelas mineradoras, até então anuais, passaram a ser trimestrais, o que beneficiou o caixa das empresas.
O quadro é de deficit no balanço entre oferta e demanda, cenário que deve começar a se reverter apenas em 2012. Portanto, para 2011, a expectativa continua sendo de alta das cotações -ainda que em menor escala.
“Deve entrar algum aumento de capacidade em 2011, mas ainda não será suficiente para atender a demanda. Os preços devem continuar pressionados”, diz Stefânia Grezzana, da Tendências Consultoria.
A expectativa do mercado é que a Vale aumente seus preços em torno de 8% no primeiro trimestre.
fonte: Folha de São Paulo