por Aldem Bourscheit

No Cerrado, um dos biomas mais ameaçados pelo avanço desregrado da fronteira produtiva, o Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu (MSVP) é uma peça fundamental para o desenvolvimento de modelos econômicos que aliem conservação, produção e manutenção da diversidade cultural.

Com quase 2 milhões de hectares distribuídos em onze municípios do norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia, ele foi decretado pelo Governo Federal em abril de 2009 e abriga doze unidades de conservação federais, estaduais e particulares, além de terras indígenas. Mosaicos são reconhecidos pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei 9.985/2000) e devem promover uma gestão integrada e participativa das áreas protegidas e de seus entornos.

Palco de belezas cênicas e humanas que inspiraram João Guimarães Rosa a escrever uma das maiores obras de nossa literatura, Grande Sertão: Veredas (1956), o MSVP abriga uma complexa e única realidade socioeconômica.

Nesse contexto e esperando contribuir para a implantação e o fortalecimento do Mosaico, o WWF-Brasil apoiou o levantamento e o cruzamento de informações regionais sobre uso da terra, fluxos econômicos, recursos naturais e infraestrutura. Atalho para download ao lado.

A construção dos mapas – A empreitada começou em dezembro de 2011, quando o Conselho Consultivo do MVSP conheceu a proposta para o mapeamento. Em seguida, três oficinas foram realizadas no primeiro semestre de 2012, nos municípios mineiros de Chapada Gaúcha, Bonito de Minas e Itacarambi. Elas foram apoiadas pelas prefeituras, pela Fundação Pró-Natureza e pelo Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais.

Os encontros reuniram mais de cem representantes de populações tradicionais e camponesas, do agronegócio e das esferas de governo federal, estadual e municipal, entre outros. Adiante, os resultados foram sistematizados e dispostos sobre inéditos mapas colaborativos, lançados em outubro de 2012.

Construir e difundir informações com coletividade e democracia é fundamental, ainda mais para regiões tão distintas como o MSVP. Isso reforça a possibilidade de que as inúmeras riquezas e potencialidades regionais sejam ainda mais reconhecidas e aproveitadas de forma sustentável pelos setores que lá atuam.

Respostas locais – Além de detalhar regiões aproveitadas pelo extrativismo, infraestrutura de apoio à produção e potencial turístico, cada oficina também revelou diferentes expectativas e preocupações das populações do Mosaico, variando de necessidades básicas a melhorias em infraestrutura, capacitação e presença do Poder Público.

Em Chapada Gaúcha, foram destacadas formação escolar e técnica, bem como organização e fomento de cooperativas, como principais medidas para viabilizar a produção extrativista. Também foi elencada a necessidade de maior oferta de assistência técnica para ampliar o aproveitamento de frutíferas, artesanato e itens agroindustriais. Também houve interesse na produção de carvão para consumo local como suporte à renda familiar.

Saneamento básico, geração e destino do lixo e manutenção de estradas ganharam relevância em Bonito de Minas. Em seguida, vieram o apoio para captação de recursos e produção por associações comunitárias. Na oficina, também foi destacada a necessidade da recuperação de áreas degradadas e da qualificação da infraestrutura para o aproveitamento do Cerrado pelo extrativismo, inclusive pela oportunidade de comercialização para a merenda escolar.

Além dos temas destacados nas duas primeiras oficinas, que priorizaram o fortalecimento das cooperativas com assistência técnica, o beneficiamento e a comercialização de itens extrativistas, as questões de infraestrutura e o fortalecimento institucional, a reunião de Itacarambi também se voltou para a agregação de valor à produção primária, para o fortalecimento institucional e das políticas públicas.

De cada encontro foram definidos encaminhamentos aos setores público e privado para a redução dos entraves ao desenvolvimento sustentável do MSVP.

Próximos passos – Com este primeiro mapeamento colaborativo do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu, o WWF-Brasil e instituições parceiras esperam ter consolidado mais um passo na consolidação de um dos espaços mais importantes para a conservação e valorização do Cerrado.

Como foi ressaltando ao longo de todo o processo, o mesmo não se encerra nas oficinas e na divulgação dos mapas, mas avançará na medida em que tais informações se tornarem instrumentos concretos para o desenvolvimento sustentável da região.

Para tanto, a implantação de um sistema para acompanhamento dos encaminhamentos das oficinas será fundamental, bem como um estreitamento das relações entre atores sociais, governamentais e privados, sempre com vistas na construção de processos transparentes e positivos para a superação das dificuldades e fortalecimento das oportunidades regionais.

 

Fonte: WWF Brasil