A dramática batalha para conquistar o Polo Sul, protagonizada há um século por dois dos expedicionários mais famosos da história, Roald Amundsen e Robert Falcon Scott, reflete agora em uma ambiciosa exposição no Museu de História Natural de Nova York, que começa neste sábado.
“É uma história muito famosa por múltiplas razões, entre elas porque tem um grande componente de tragédia”, explicou ontem à Agência Efe o responsável pela exposição, Ross MacPhee, que quer mostrar “o que as pessoas fazem quando estão isoladas em ambientes extremos, como sobrevivem e como se mantêm saudáveis”.
“Corrida para o fim da terra”, que poderá ser visitada até o fim do ano, repassa a rivalidade que aconteceu entre 1911 e 1912 para chegar pela primeira vez ao Polo Sul entre as expedições capitaneadas pelo norueguês Amundsen e pelo britânico Scott.
As duas expedições enfrentaram todos os tipos de desafios para realizar uma complexa travessia de 2.800 quilômetros, para entrar para a história como a primeira que alcançou o Polo Sul e, além disso, voltar para relatar esta aventura.
O grande desafio foi superar a barreira de gelo de Ross, uma enorme massa gelada de tamanho aproximado ao da França, que até então parecia intransponível. O britânico apostou em superá-la pelo oeste e o norueguês pelo leste, uma opção que acabou sendo mais conveniente devido às condições meteorológicas e que facilitou o triunfo da expedição de Amundsen.
Os noruegueses chegaram ao Polo Sul um mês antes que a equipe de Scott, cujos cinco integrantes pereceram no caminho de volta. “Os grupos se expuseram não só às extremas condições meteorológicas da Antártida – uma das mais difíceis do mundo – mas também ao risco de inanição, ao perigo de se desorientar e aos limites da natureza humana”, assegurou MacPhee.
O responsável pela mostra acrescentou que, enquanto Amundsen só pretendia ser o primeiro a chegar ao Polo Sul, Scott também tinha o compromisso de realizar pesquisas científicas no último continente explorado.
“Quando decidimos fazer a exposição, quisemos insistir em que a equipe britânica estava muito interessada em fazer ciência e nestas primeiras expedições à Antártida houve grandes descobertas no campo da geografia”, disse MacPhee.
Assim, na exposição há detalhes sobre o pinguim imperador, endêmico da Antártida e o maior de sua espécie. Para buscar comida é capaz de se submergir mais de 200 metros sob a água e aguentar sem respirar por até 20 minutos.
Três membros da expedição de Scott embarcaram em uma expedição de três semanas, que descreveram como “a pior viagem do mundo”, para explorar os ovos da espécie.
Este animal percorre dezenas de quilômetros gelo adentro para participar de um surpreendente ritual de incubação que requer a total colaboração do pai devido às extremas temperaturas.
A exposição, que teve a colaboração econômica do Reino Unido, também mostra o mundo que há sob o gelo da Antártida. Com a ajuda de um mapa interativo, é possível saber o que jaz embaixo e as correntes marinhas que afetam a região. O visitante inclusive pode se submeter a um teste para determinar que qualidades tem como expedicionário e se está preparado para sobreviver a um ambiente extremo por longos períodos de isolamento.
Fotografias, desenhos, manuscritos e diversos artefatos ajudam a recriar os esforços logísticos que os primeiros expedicionários do século passado tiveram que fazer para realizar tal façanha, desde a preparação da equipe e da comida, até as condições climatológicas que enfrentaram para conquistar o continente mais desconhecido.
Além disso, podem ser observadas roupas e ferramentas utilizadas pelos próprios Amundsen e Scott, assim como maquetes de tamanho real dos acampamentos de ambas as expedições, decididas a conquistar o lugar mais frio do mundo.
“Comparamos como se prepararam os integrantes das expedições e como viajaram, porque houve aspectos sem sucesso em ambos os casos e mostramos o que fizeram para corrigi-los”, detalhou MacPhee, que espera que o visitante se envolva com os mistérios de uma expedição com os recursos de cem anos atrás.
“Algumas histórias são universais porque têm elementos que tocam a todos: falam de pessoas tentando conseguir algo e que talvez tenham fracassado ou, inclusive, morrido por isso. São histórias muito poderosas e emocionantes que podem ser usadas para explicar muitas outras coisas”, concluiu MacPhee.
EFE