Na sua 3ª edição, o GAF (Global Agribusiness Forum) reuniu nesta semana, em São Paulo, mais de mil participantes de 42 países para dois dias de debate sobre o futuro da agropecuária, dos alimentos, das florestas plantadas e da agroenergia.
O agronegócio responde por 25% do PIB e por 46% das exportações brasileiras. Somos o 3º maior exportador mundial no setor, e nossos produtos chegam a quase 200 países. Trata-se de uma das poucas áreas em que o Brasil é, de fato, global.
O evento discutiu temas de alta relevância, como segurança alimentar e geopolítica, promoção comercial, adição de valor, tecnologias do futuro, agricultura energética, sustentabilidade, financiamento e serviços, nutrição e novas tendências do consumo, entre outros.
A presença do presidente interino, Michel Temer, de três ministros de Estado (Relações Exteriores, Agricultura e Energia) e de dois governadores trouxe entusiasmo e esperança para o público presente, num momento em que o PIB do setor cresceu menos, mas não chegou a ficar negativo.
Além dos desafios usuais de aumento da competitividade, dois temas chamaram a atenção. O primeiro é a aproximação virtuosa entre agronegócio e sustentabilidade. O Brasil vem melhorando os seus indicadores nessa área: uso de tecnologias que economizam recursos naturais, implantação do Código Florestal, mitigação das mudanças do clima, proteção da biodiversidade, energias renováveis etc. Notei que o diálogo e a cooperação entre o mundo privado e as ONGs claramente ganharam estatura e maturidade nos últimos anos, como prova a ampla “Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura”, que reúne 140 empresas, associações e ONGs.
O segundo é o desafio de ampliar e qualificar nossa presença internacional. Aqui os grandes desafios são o acesso aos mercados protegidos, a diferenciação e a adição de valor dos produtos vendidos no exterior —90% das exportações do agro são compostas de commodities pouco ou nada diferenciadas e há uma percepção de que podemos fazer mais e melhor— e um esforço contínuo de comunicação estruturada.
Nizan Guanaes fez uma palestra objetiva e sincera sobre os desafios de comunicação do agronegócio brasileiro. A importância do agro na geração de empregos, divisas, inovação e interiorização do desenvolvimento é mais do que óbvia. Mas, segundo Nizan, no Brasil o óbvio costuma ter muitos inimigos. Por desconhecimento, preconceito ou má-fé, as percepções nem sempre refletem a realidade. Para Nizan, “Brasil” deveria ser visto como sinônimo de “alimento”. Nós sabemos isso, mas o mundo não sabe, não conhece a nossa história, não vê nossas commodities, apesar de consumi-las, não conhece a amplitude e a sofisticação desse setor.
Com raras exceções, a presença do agro brasileiro no exterior é medíocre. Mesmo nos grandes fóruns globais, a nossa presença é esporádica e desorganizada. O próprio GAF deveria ser realizado fora do Brasil.
Na minha opinião, o investimento em comunicação deveria começar pelo exterior: contar nossas histórias lá fora de forma inteligente, montar sites com bom conteúdo nos idiomas mais importantes, usar as redes sociais com efetividade e desenvolver um trabalho intenso com formadores de opinião em países-chave. É preciso esclarecer as inverdades com dados e informações de qualidade, divulgadas de forma didática.
O GAF mostrou que há muita vontade para melhorar o alinhamento e a coordenação entre os diferentes elos das cadeias produtivas, com a mídia, a academia e a sociedade civil, dentro do governo, entre o governo e o setor privado, entre o nacional e o internacional. Esse é o melhor caminho para a retomada do desenvolvimento.
Marcos Sawaya Jank é Especialista em questões globais do agronegócio. Escreve aos sábados, a cada duas semanas. Jornal “Folha de São Paulo”, Caderno Mercado, 09/07/2016
Agrolink com informações de assessoria