O óleo que vazou na sexta-feira na Baía da Ilha Grande (litoral sul do Estado do Rio de Janeiro) de um navio usado pela indústria do petróleo chegou hoje ao continente. Uma mancha atingiu a praia do Bonfim, a 2,5 quilômetros do centro de Angra dos Reis, principal cidade da Costa Verde fluminense. O óleo poluiu a areia e o costão rochoso. Outras praias da cidade, da turística Ilha Grande e da restinga da Marambaia poderão ser atingidas pelo óleo amanhã.
De águas calmas, o Bonfim é uma praia muito utilizada pela população de Angra, pela proximidade dos bairros mais populosos. É também uma área onde se pratica futebol e vôlei.
O navio-tanque Cidade de São Paulo, de onde o óleo vazou, pertence à empresa Modec, que presta serviços a petroleiras mundiais em engenharia, navegação e instalações industriais. A embarcação seguia para o estaleiro Brasfels (Angra) para a conversão em navio-plataforma (FPSO), que deverá ser empregada pela Petrobras a partir de 2013 na bacia petrolífera de Santos (SP).
De acordo com a Polícia Federal (PF) e o governo do Estado do Rio, vazaram cerca de 10 mil litros de óleo combustível. A quantidade não é tão grande. O vazamento no campo de Frade (Bacia de Campos, no norte fluminense), iniciado em 7 de novembro e ainda não contido, é calculado em torno de 400 mil litros de petróleo bruto. O problema é que o novo vazamento aconteceu a poucos quilômetros de um dos mais belos trechos do litoral brasileiro, em uma área de abundante vida marinha e de grande atrativo turístico.
Após vistoria aérea hoje de manhã, o delegado do Meio Ambiente da PF no Rio, Fábio Scliar, disse ter avistado duas manchas. Uma delas, de 150 metros de comprimento por 200 metros de largura, aproximava-se da restinga da Marambaia, área de acesso restrito a militares e onde os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva passaram temporadas de veraneio.
Bem maior – 1,5 quilômetro de comprimento por 150 metros de largura -, a segunda mancha estava do lado externo da Ilha Grande, aparentemente rumo ao mar aberto. Scliar não enxergou a terceira mancha, que chegou à tarde à costa de Angra dos Reis. O delegado abrirá inquérito para apurar as responsabilidades pelo desastre. “Mesmo que não tenha sido grande, esse despejo representa claro dano ambiental”, afirmou.
Em outro sobrevoo, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc (ex-ministro do Meio Ambiente) verificou a existência de duas manchas de pequenas dimensões. A secretaria multou a Modec em R$ 10 milhões. Esse valor pode ser acrescido ou reduzido conforme o que for apurado durante as investigações.
O secretário disse que o derramamento de óleo na Baía da Ilha Grande é “infinitamente menor” do que o ocorrido no Campo de Frade, operado pela empresa norte-americana Chevron. Mas que “o impacto ambiental é bem maior, já que ocorreu numa região bastante sensível do ponto de vista da biodiversidade”.
Volume
Em nota divulgada nesta noite, a Modec informou ter revisto a quantidade de óleo derramado no mar. O comunicado diz que 4,4 mil litros de água misturada a óleo vazaram, e não os 10 mil divulgados inicialmente. “Relatório preliminar da equipe técnica da empresa indica que o volume total (de óleo), possivelmente, não ultrapassou os 2 metros cúbicos (2.000 litros)”, afirma a empresa na nota.
Ainda de acordo com a Modec, técnicos contratados coletaram amostras do óleo na praia do Bonfim. “Análise preliminar aponta que as características da referida substância são distintas do óleo combustível vazado do navio-plataforma”, diz o comunicado. A Modec informou ainda não saber a causa do vazamento.
Responsável pelas operações da empresa na Bacia de Santos, André Cordeiro disse que o navio foi construído na China, “há dez, 15 anos”. Ele disse que o óleo vazou do tanque de lastro, “o que não é comum”. O Cidade de São Paulo está parado entre a Ilha Grande e a costa da cidade de Paraty, outra atração nobre da Costa Verde.
fonte: VEJA