As Nações Unidas revelaram nesta segunda-feira um estudo estratégico que, se colocado em prática, garantirá um futuro sustentável para o planeta por meio de investimentos no valor de US$ 1,3 trilhão por ano –ou 2% da riqueza gerada pela economia global– em dez setores-chave.
Esta mudança de paradigma em prol de uma “economia verde” também ajudaria a aliviar a miséria crônica, afirma o Programa Ambiental da ONU (UNEP, na sigla em inglês) em seu relatório, apresentado em uma reunião com mais de 100 ministros do Meio Ambiente em Nairóbi.
De acordo com a estratégia da ONU, a renda individual superaria as trajetórias previstas pelos modelos econômicos tradicionais, ao mesmo tempo em que reduziria à metade a “pegada ecológica” per capita da humanidade até 2050.
Entretanto, o UNEP admite que reestruturar a economia global contrariaria uma série de interesses poderosos, e seria um desafio para o mercado de trabalho.
O plano, porém, promete gerar índices de crescimento iguais ou maiores que a abordagem tradicional para os negócios, que –apesar de ter alimentado dois séculos de industrialização vertiginosa– deteriorou pouco a pouco os recursos naturais da Terra.
“Precisamos continuar a desenvolver e expandir nossas economias”, disse Achim Steiner, diretor executivo do órgão, ao apresentar o estudo.
“Mas este desenvolvimento não pode vir às custas dos próprios sistemas que sustentam a vida na terra, nos mares e em nossa atmosfera, que por sua vez sustentam nossas economias e a vida de cada um de nós”, acrescentou.
As mudanças climáticas cada vez mais rápidas, a dramática redução da biodiversidade, a frequente escassez de comida, o crescente abismo entre a demanda e o fornecimento de água doce, a destruição das florestas tropicais, berços da vida – são todos lembretes de que o equilíbrio e a generosidade da Terra não podem ser considerados eternos, destaca o documento.
Ao mesmo tempo, a crise financeira global de 2008 jogou luz sobre problemas estruturais profundos do sistema econômico.
“Embora as causas de crises como esta variem, em um nível essencial todas elas compartilham uma característica comum: a má alocação de recursos”, indicou por sua vez Pavan Sukhdev, analista do Deutsche Bank, que participou do estudo da ONU.
O relatório aponta incentivos “perversos” que encorajam o comportamento não sustentável, incluindo os US$ 600 bilhões gastos anualmente com subsídios à produção de combustíveis fósseis e os US$ 20 bilhões destinados à indústria da pesca, cada vez mais predatória.
A ONU lançou um apelo aos líderes políticos, para que abram a cabeça e não tenham medo de inovar.
“Os governos têm um papel central na modificação de leis e políticas, investindo dinheiro público na riqueza pública para tornar esta transição possível”, ressaltou Sukhdev.
Além disso, ações e iniciativas do setor público certamente “atrairiam trilhões de dólares em capital privado em prol da economia verde”, afirmou.
O relatório do UNEP deseja, acima de tudo, combater o que descreve como “mitos” acerca do crescimento sustentável, a começar pela ideia de que a preservação do meio ambiente necessariamente acarreta menor crescimento econômico.
“Hoje há evidência suficiente [para provar] que tornar as economias mais verdes não inibe a criação de riqueza e muito menos a criação de empregos”, indica o texto.
fonte: Folha de São Paulo