No ano passado, empurrada pelo noticiário, Dilma Rousseff passou a vassoura no Ministério dos Transportes. A piaçaba alcançou José Francisco das Neves (foto), o ‘doutor Juquinha’, varrido da presidência da estatal ferroviária Valec.
Nesta quinta (5), a Polícia Federal e o Ministério Público Federal levaram aos trilhos, em Goiás, a Operação Trem Pagador. Foram recolhidos ao cárcere, por cinco dias, quatro pessoas. Entre elas o ‘doutor Juquinha,’ sua mulher, Marivone Ferreira das Neves, e um filho do casal, Jader Ferreira das Neves.
Em decisão inédita, a Justiça expediu junto com os mandados de prisão a ordem para o bloqueio dos bens amealhados pela família. Coisa superior a R$ 60 milhões. O procurador da República Helio Telho explicou o sentido da providência.
Segundo Telho, o bloqueio destina-se a “assegurar que os criminosos não usufruam dos produtos do crime.” Tenta-se, de resto, “garantir o ressarcimento dos danos ao patrimônio público, evitar que os bens desapareçam e sufocar economicamente a organização criminosa.”
Inauguradas em agosto do ano passado, nas pegadas da “limpeza” da Valec, as investigações revelaram que o ex-presidente da estatal operava uma lavanderia de dinheiro. Junto com a mulher e os filhos, o “doutor” acumulou patrimônio incompatível com o contracheque de servidor público.
O rol de bens inclui fazendas, lotes, casas em condomínios fechados e apartamentos. Constituíram-se empresas para administrar e explorar economicamente as propriedades. Mexe daqui, remexe dali os investigadores farejaram operações imobiliárias e financeiras realizadas com o propósito de esconder bens, distanciando os curiosos da origem do dinheiro e dos nomes dos proprietários.
O fio da meada patrimonial foi puxado numa ação de improbidade administrativa que vinha sendo conduzida pela Procuradoria e pela PF. Nesse procedimento, detectou-se o superfaturamento num trecho da Ferrovia Norte-Sul tocado pela empreiteira Constran.
Descarrilado o esquema, evidenciaou-se algo que já era do conhecimento das almas menos ingênuas: a faxina de Dilma chegou à Valec com nove anos de atraso. O “doutor Juquinha” fora nomeado para a presidência da estatal em 2003, ano inaugural do primeiro reinado de Lula.
Vinha da Companhia Energética de Goiás. Trafegava pelos trilhos da política goiana. Antes de filiar-se ao PR, passara pelo PMDB. E cultivara amizades no tucanato. Cinco anos antes, na campanha eleitoral de 1998, o “doutor Juquinha” candidatara-se a deputado federal. Informara à Justiça Eleitoral que dispunha de um patrimônio de R$ 559 mil.
Depois de usufruir dos dois reinados de Lula, escorregou suavemente para dentro da gestão de Dilma. Nesse período, tocou algumas das mais vistosas obras do PAC, um empreendimento que tinha na atual presidente da República a figura de uma mãe.
Agora, ao iluminar o pus no fim do túnel, a Operação Trem Pagador informa que o patrimônio do “doutor” passa dos R$ 60 milhões. Uma evidência –mais uma— de que a ocupação partidária e predatória de pedaços do Estado custa os olhos da cara do contribuinte.