David Goldman relata que ela não se conformava com o fato de ele não ser rico
Avó de Sean afirma que ele mente; livro sobre a disputa para ter a guarda do menino foi lançado ontem nos EUA
CRISTINA GRILLO
DO RIO
Bruna Bianchi era uma mulher calculista, que não aceitava o fato de o marido, o americano David Goldman, pai de seu filho Sean, não ser rico e não lhe oferecer o padrão de vida ao qual estava acostumada no Brasil.
É dessa forma que David Goldman retrata a ex-mulher no livro em que conta sua batalha para reaver o filho, Sean, trazido para o Brasil por Bruna em 2004. Ela morreu em agosto de 2008, de complicações no parto da segunda filha, Chiara, de seu casamento com o advogado João Paulo Lins e Silva.
O livro, “A Father’s Love: One Man’s Unrelenting Battle to Bring His Abducted Son Home” (“Amor de Pai: A Batalha Incansável de um Homem para Trazer de Volta para Casa Seu Filho Sequestrado”, em tradução livre), foi lançado ontem nos EUA.
Depois de quatro anos e meio no Brasil, Sean, 10, voltou para os EUA na véspera do Natal de 2009, graças a decisão do então presidente do STF, Gilmar Mendes.
No livro, David relata que, quatro dias após a mulher e o filho viajarem para o Brasil, recebeu um telefonema de Bruna que, em tom frio e sem emoção, lhe informou que o “caso de amor” terminara.
Goldman diz que, após a separação, não veio ao Brasil ver o filho atendendo à recomendação de advogados americanos, para que não caísse numa “armadilha” jurídica, já que brigava pela guarda do menino com base na Convenção de Haia.
Ele conta que, depois de se recusar a atender ao pedido de Bruna para abrir mão da guarda do filho, recebeu uma ligação num telefone do qual só ela tinha o número. “Sabemos quem você é, sabemos onde você mora. Prepare-se para morrer”, afirmou a voz.
Goldman conta que procurou o FBI e que, por recomendação dos agentes, passou alguns dias fora de casa, até decidir voltar, munido de um taco de beisebol e de um spray de gás lacrimogêneo. “Se eles tentassem me matar, não morreria sem lutar.”
Goldman relata seu reencontro com o filho, em fevereiro de 2009, após a morte de Bruna. Conta que, ao ver o pai, Sean disse: “Onde você estava todo esse tempo?”. Depois, que o filho lhe pediu abraço “com força máxima”.
Mais tarde, após almoçar com os avós, Sean teria dito: “Não me deixaram abraçar você, nem dizer que o amo, nem chamá-lo de pai”.
OUTRO LADO
Silvana Bianchi, a avó materna de Sean, disse que, ao lançar o livro, David Goldman “continua vendendo o filho”, “depois de vendê-lo em camisetas e bonés”, alusão à campanha de Goldman para levar Sean de volta.
Sobre o trecho do livro onde Goldman diz que Bruna premeditara sua fuga para o Brasil com ajuda dos pais, Silvana afirmou não aguentar mais “tanta tristeza”.
“Ele pode falar o que quiser. Se não inventar essas histórias, vai vender o quê?”
Fonte: Folha de S. Paulo