Não entendeu nada. Que diabo de aviso era aquele dizendo que a conta tinha sido fechada a seu pedido?
Josiel Fernandes, aposentado do serviço público e contador nas horas vagas, casado com Anita Fernandes, conseguiu -e com a ajuda da mulher, que prepara quitutes para festas de aniversário- juntar certa grana na Caixa Econômica Federal. Esse dinheiro é para fazer frente a alguma eventualidade, diziam eles e acreditavam nisso, tanto que até recentemente não tinha sacado dali nenhum centavo.
Sim, até recentemente, porque, faz alguns meses, ele teve que usar uma parte dessa economia para atender à doença do filho Joselito, que, tendo perdido o emprego, deixara de pagar o plano de saúde.
“Veja você”, queixou-se Josiel, “meu filho pagou durante anos esse plano de saúde e nunca necessitou dele. Foi parar de pagar e logo surgiu essa complicação nos rins”. De fato, teve que despender uma nota preta com o médico, e outra, ainda mais preta, com os exames. Felizmente, ficou nisso, sem necessitar de cirurgia, porque aí então pouco ou nada sobraria do dinheiro.
Parecia, assim, que o pior havia passado, quando o porteiro lhe entregou uma carta vinda da Caixa Econômica Federal e que ele largou em cima da mesa julgando ser um extrato de suas aplicações. Mas quando a abriu levou um susto.
A carta dizia o seguinte: “Prezado Cliente, informamos que sua conta na Agência Copacabana, de número tal, foi encerrada no dia 31/10/2011, conforme sua solicitação e aviso enviado anteriormente”.
No primeiro momento não entendeu nada. Que diabo de aviso era aquele dizendo que sua conta tinha sido fechada a seu pedido? Não havia feito pedido algum. Imaginou tratar-se de um engano do porteiro que lhe teria entregue uma carta destinada a outro morador. Mas, ao verificar o endereço constante no envelope, constatou que era de fato o destinatário.
Talvez a conta não fosse a sua, pensou, mas logo viu que o número ali mencionado era mesmo o de sua conta. E entrou em pânico: como a sua era uma conta de investimento e havia sido encerrada é que o dinheiro foi retirado dela. Alguém, se fazendo passar pelo titular da conta, enganara o funcionário da Caixa e se apossara do dinheiro.
Nervoso, buscou o telefone da Caixa e ligou para lá. Depois de muito, atendeu um funcionário e lhe disse que só o gerente da agência onde tinha a conta poderia explicar o que aconteceu e deu-lhe o telefone, mas o expediente já se encerrara e assim teria que esperar até o dia seguinte, naquela aflição.
E agora, pensou ele, digo à Anita que perdemos nosso dinheiro? Não, achou melhor não dizer nada por enquanto. E a verdade é que, se alguém se apossou do dinheiro, especulou, a Caixa vai ter que arcar com o prejuízo, vai ter que nos ressarcir. Afinal, ela é responsável pela grana que se confia a ela.
Mas Anita percebeu que alguma coisa o preocupava. Ele respondeu que não era nada, mas ela, que bem o conhecia, insistiu até que ele contou: “Alguém roubou a grana que a gente tinha na Caixa”, disse ele. Ela empalideceu, “não pode ser, Josiel, não pode ser!”. Temendo que ela fosse ter um treco, ele garantiu que a Caixa teria que ressarci-los do prejuízo. “Eu nunca confiei na Caixa Econômica”, afirmou ela. “O que a Neuzinha me contou foi o bastante.”
Tratou de tranquilizá-la, mas não conseguiu dormir aquela noite. O jeito foi tomar diazepam. Mas, ainda assim, acordou cedo e aflito, só esperando a hora de a Caixa abrir para falar com o gerente. Afinal vestiu-se e tomou o rumo da Caixa, levando no bolso a maldita carta e os últimos extratos de sua poupança.
Mas, ao chegar à rua em frente à agência da Caixa, teve uma surpresa: uma enorme fila de gente se estendia até a esquina. “Vim num mau dia”, pensou, mas se aproximou e perguntou a uma senhora para que era aquela fila. “Recebi uma carta dizendo que minha conta foi fechada a meu pedido e não pedi coisa alguma. Passei a noite em claro, porque dependo desse dinheirinho.”
Todos ali tinham recebido a mesma carta. Respirou aliviado, seu pé-de-meia estava a salvo. Resumo da ópera: a carta estava errada.
Ele então se lembrou do anúncio da Caixa na televisão e começou a cantarolar baixinho: “Vesti azul, minha sorte então mudou…”. É, ao que tudo indica, mudou para pior.
fonte: folha de sp