Palestrante destaca a produção de plantas sentinelas, que funcionam como sensores do meio ambiente
A biologia sintética trabalha com princípios que a engenharia elétrica usa para construir circuitos dentro de organismos vivos. A biologia sintética e o debate sobre pesquisa e aplicação da tecnologia genética de restrição de uso (GURTs- Genetic Use Restriction Technologies) é um dos destaques do VII Congresso Brasileiro de Soja e do Mercosoja 2015 e hoje (25), foi conduzido pelo pesquisador Maurício Antunes, da Embrapa.
Para o palestrante existem duas aplicações dessa tecnologia em seres vivos que geram debates técnicos e éticos. Uma delas (V-GURTs) objetiva restringir todo o uso genético de uma cultivar que ficou conhecida como tecnologia terminator, ou seja, a semente germina, a planta produz, mas desenvolve sementes estéreis. Segundo ele, tanto as instituições de pesquisa quanto as empresas que produzem sementes estão de acordo que não se deve utilizar essa tecnologia com o propósito único de proteger propriedade intelectual. A legislação brasileira também restringe a utilização de Gurts com o intuito de proteção de propriedade intelectual.
Por outros lado, Antunes entende que a tecnologia (T-GURTs) é promissora quando restringe apenas uma característica específica da planta e não todo o material genético. “Nesse caso, as sementes são férteis e, portanto, podem ser utilizadas novamente”, relata. “A tecnologia quando utilizada dessa forma pode impedir a mistura de sementes ou grãos ou produzir componentes de alto valor agregado, por exemplo”, defende.
Entre as várias aplicações da biologia sintética, Antunes destaca a produção de plantas sentinelas, que funcionam como sensores do meio ambiente. “Essas plantas processam informações do meio ambiente e respondem de um jeito ou de outro”. Essas pesquisas não chegaram comercialmente em plantas, mas já existem exemplos no ramo farmacêutico. Entra as aplicações práticas, Antunes destaca um remédio (artemísia) que foi produzido, a partir de leveduras para ser usado para tratamento de malária. “O remédio é produzido em uma levedura geneticamente modificada, utilizando tecnologia de biologia sintética, o que reduz consideravelmente os custos”, explica
Biologia sintética – Antunes vem trabalhando para associar a biotecnologia com conceitos da engenharia, especialmente com a engenharia elétrica. Seus estudos desenvolvidos na Universidade do Colorado pertencem a essa nova área de pesquisa chamada de biologia sintética. Antunes relata que a biologia sintética utiliza alguns princípios que a engenharia elétrica vem usando há vários anos para construir circuitos dentro de organismos vivos.
“O objetivo é tentar construir circuitos parecidos com circuitos elétricos para programar genes e proteínas, por exemplo, de seres vivos (bactérias, plantas)”, exemplifica. “Queremos construir sistemas que processem informação e tirem respostas da mesma forma que os circuitos elétricos funcionam”, explica. Com essas ferramentas, o pesquisador busca uma biologia de maior precisão. “Isso quer dizer que quando gerarmos plantas transgênicas, vamos ter circuitos mais complexos que poderão processar mais de uma informação ao mesmo tempo e gerar uma resposta ou um fenótipo que traga vantagens para a planta”.