O livro “Do rural invisível ao rural que se reconhece: dilemas socioambientais na agricultura familiar”, editores Angela Duarte Damasceno Ferreira, Alfio Brandenburg e Hieda Maria Pagliosa Corona, foi lançado em 2012. Joel Leandro de Queiroga, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) escreveu o capítulo “Sistemas agrários: expressão das estratégias de reprodução da agricultura familiar na diversidade da região metropolitana de Curitiba”.
Esta obra concentra-se no mundo dos pequenos agricultores familiares, camponeses e trabalhadores rurais, cuja cultura, vida social, produção econômica e função ambiental contribuem de modo determinante a definir o Brasil contemporâneo, bem como a delinear alguns traços marcantes de sua fisionomia futura. Inclui um importante banco de dados de todos os agricultores familiares das áreas estudadas, além de significativos trabalhos de espacialização, por meio de iconografia, mapeamentos e localizações informatizadas.
Conforme o pesquisador, durante a pesquisa, o que chamou a atenção de forma positiva nesses agricultores familiares foram vários aspectos, mas Queiroga destaca três. “O primeiro, o prazer que demonstravam em nos receber e colaborar com a pesquisa compartilhando seus saberes, problemas, desejos e perspectivas para a propriedade e para a vida da família. O segundo, que estes saberes e conhecimentos, herdados ao longo de gerações e também adquiridos a partir da constante observação da natureza e da experimentação de práticas agrícolas e de criações animais. Isso ficava evidente quando, por exemplo, descreviam as características dos diferentes tipos de solos que eles identificavam na propriedade e quais culturas que se desenvolvem melhor em um ou outro tipo de solo. O terceiro foi a dedicação e persistência com que trabalham a terra e enfrentam as adversidades de clima e oscilações de mercado que comprometem e que são típicas das atividades agropecuárias, pois algumas vezes presenciamos eles incorporando ao solo as culturas antes de serem colhidas, perdendo o produto do trabalho e os investimentos feitos na produção porque os preços oferecidos não cobriam nem os custos de colheita e de transporte até a comercialização”.
“Falamos em “rural invisível” porque desde o início dos nossos estudos, quando realizávamos o primeiro diagnóstico para conhecer melhor este rural metropolitano, percebemos que este rural não era visto pelos olhos do poder público ou assistido por suas políticas públicas. Percebemos que a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), mesmo possuindo um grande dinamismo agrícola e uma população rural expressiva em vários de seus municípios, e que mesmo com a recente ressignificação do rural como espaço de múltiplas funções, que além da produção de alimentos, fibras e energia é também espaço de lazer, recreação, contemplação da natureza e preservação dos recursos naturais, as políticas públicas voltadas para este rural, quando existentes, continuavam sendo definidas por nós, que vivemos no meio urbano, o que naturalmente acaba refletindo as demandas da metrópole e não dos agricultores familiares e suas organizações, população que de fato trabalha e vive no meio rural”.
No capítulo do pesquisador, as estratégias de reprodução podem ser entendidas como as diferentes estratégias de trabalho, de opções produtivas, de práticas de conservação dos recursos naturais, de relações com o mercado, de participação social, de acumulação e renovação dos saberes, de manutenção do patrimônio fundiário, bem como dos projetos de futuro para a família.
Queiroga considera importante explicitar que este livro é um produto de cinco teses de um curso de doutorado interdisciplinar em meio ambiente e desenvolvimento desenvolvidos na Universidade Federal do Paraná, que teve como temática comum de pesquisa a questão “se e como os agricultores familiares se reproduzem na diversidade socioambiental desta região?”
Neste sentido, cada pesquisador buscou, dentro da sua área de conhecimento, um referencial teórico-metodológico que contribuísse para responder esta questão. “Utilizei então o conceito de sistemas agrários que pode ser definido como o modo de organização adotado por uma sociedade rural para explorar seu espaço e gerar seus recursos. Esse modo de exploração do meio é um produto das interações entre limites e potencialidades do meio físico, características socioeconômicas da comunidade e das tecnologias e práticas adquiridas e utilizadas por uma sociedade rural, ao mesmo tempo em que estas interações sofrem influências de fatores externos ao meio”.
As conclusões para a região metropolitana de Curitiba podem ser usadas para outras regiões do Brasil, enfatiza Queiroga. “Embora estes municípios e comunidades sejam ilustrativos desta região metropolitana, as principais conclusões apresentadas refletem o que acontece em várias regiões do pais e demonstram que a dinâmica e diferenciação dos sistemas agrários são influenciadas pelos aspectos ecológicos do meio, pelos aspectos sociais, culturais e econômicos da sociedade que se encontra neste meio e como esta acessa as políticas públicas ou define suas estratégias em função delas.
Como exemplos, destaca-se como a adoção de tecnologias da modernização da agricultura’ difundidas a partir de 1960, ao contrário da homogeneização esperada, acentuou ainda mais a heterogeneidade socioambiental; ou como a organização destes agricultores associada às políticas públicas de apoio à produção potencializam melhores condições de produção e de vida da agricultura familiar; ou ainda como restrições evidenciadas em áreas de mananciais de abastecimento, por exemplo, condicionam a adoção de práticas e de sistemas de produção menos impactantes ao meio ambiente além de outras conclusões já destacadas.
O livro custa R$ 30,00 e pode ser comprado no endereço:
http://www.editora.ufpr.br/detalhe_lanc.php?_index=406
Fonte: Embrapa Meio Ambiente