Acolhido como candidato a presidente num almoço oferecido pelo colega Aécio Neves ao comando do PSDB e do DEM, o governador de São Paulo, José Serra, viveu o constrangimento de ser recebido por um coro de “Aécio presidente”, horas antes, ao chegar à inauguração da Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves.
O mal-estar se estendeu por um minuto, enquanto Serra era conduzido por Aécio até a área da inauguração. O coro voltou à carga nas duas vezes em que Aécio foi chamado ao palco do evento. No almoço, porém, o próprio Aécio tratou Serra como candidato à Presidência.
“Serra, quando você for presidente, indique uma meia dúzia de ministros mineiros para os tribunais. Antes havia mais”, brincou Aécio, ao lado do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Nilson Naves, que é mineiro. Serra respondeu que não cabe ao presidente indicar, e sim uma lista tríplice.
Dois dias depois de um jantar com Serra, Aécio descartou, enfaticamente, a hipótese de concorrer à Presidência. “É preciso e vou dizer taxativamente: o tempo de uma eventual candidatura minha à Presidência passou. Não será desta vez”.
Como a Folha revelou ontem, Serra admitiu em conversas nos últimos dias que é candidato à Presidência.
Embora resista à pressão e diga que não será vice de Serra, Aécio deixou uma porta aberta para analisar a hipótese no futuro. “Sou um homem de convicções. Tenho as minhas. Enquanto elas não se alterarem, caminho no meu rumo. Se alguém me convencer, em um determinado momento, do contrário, obviamente tenho que avaliar. Mas estou absolutamente convencido de que a melhor forma de ajudar ao nosso projeto é estando em Minas”, disse Aécio.
Em conversas com aliados, Aécio até reconhece, muito remotamente, a possibilidade de ser vice, mas, lembrando ter esperado muito por uma definição de Serra, avisa que só tomaria sua decisão em junho.
O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), tem esperança que Aécio componha a chapa, desde que, agora, a pressão sobre o mineiro arrefeça.
Chamado de “presidente” pelo senador Flexa Ribeiro (PA) e tratado como candidato pelos congressistas tucanos -“Estou firme contigo”, disse Flávio Arns (PR)-, Serra, por sua vez, pediu que o partido não cobre o anúncio imediato de candidatura. Certo de que não manterá o mesmo ritmo de exposição quando deixar o governo, ele defende que o anúncio só ocorra no fim deste mês.
Sinais
“Todos os gestos que ele tinha de fazer, Serra já fez. A estratégia dele está correta. Funcionou em 2004 e em 2006”, argumenta o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA).
Nem todos os tucanos pensam assim. Cogitado como alternativa para a vice, o senador Tasso Jereissati (CE) afirma que, “para ser vice, é preciso ter um candidato na rua”.
Antes ansioso por uma manifestação pública, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), demonstrava confiança na candidatura Serra. Citando sua passagem por Minas e lembrando que hoje ele estará em Goiânia, disse que a agenda do governador paulista é “uma prova para que ninguém duvide de que ele é o candidato”.
O próprio Serra, contudo, evitou dar entrevistas assumindo oficialmente a candidatura. O mineiro comentava com Serra na frente de jornalistas que a imprensa precisava acreditar que eles estão se dando bem. “Foi assim que resolvemos tudo”, afirmou o mineiro, numa referência ao jantar em que Serra deu sinais claros de que será candidato. Questionado sobre o que havia sido resolvido, o paulista se limitou a dizer: “Nada ainda”.
Hoje, em clima de pré-campanha, ele participa da festa de aniversário do senador Marconi Perillo em Goiânia (GO).
Folha de São Paulo