edida já foi adotada em aeroportos como cumbica e viracopos

 

RICARDO GALLO, DE SÃO PAULO

 

Apelidados de “puxadinhos”, os módulos operacionais nos aeroportos vieram para ficar, afirma Gustavo do Vale, 61, presidente da Infraero (estatal que administra aeroportos).

 

Para ele, a solução é rápida, barata e ideal para aeroportos regionais. Cumbica (Guarulhos) e Viracopos (Campinas), entre outros, têm esses módulos, que servem de sala de embarque.

 

Há pouco mais de um ano no cargo, Vale está prestes a perder três dos seus principais aeroportos: na sexta, deve ser assinado o contrato com as concessionárias que administrarão Cumbica, Brasília e Viracopos.

 

O desafio será manter a receita daqui para frente. Um dos planos, afirma, é criar uma subsidiária para prestar serviços aeroportuários.

 

Ele diz que não se sentirá constrangido em copiar o que as concessionárias fizerem de bom. A seguir, a entrevista:

 

Folha – Qual será o futuro da Infraero após a concessão?

 

Gustavo do Vale – A equação feita pelo governo permite que a Infraero, mesmo com resultado menor, continue, sem problemas, sem os três aeroportos até que eles comecem a render dividendos. Precisamos desses dividendos [a Infraero terá 49% de participação] para continuar suportando a rede.

 

Qual a previsão de receber os dividendos?

 

Em uns três anos. São nesses três anos que a Infraero terá que se sustentar com recursos próprios. Agora, a partir do momento em que se falar em novas concessões, aí teremos que readequar esse processo.

 

A preocupação é haver impacto na receita?

 

Exatamente. Claro que a Infraero tem lucro acumulado e patrimônio sólido que lhe permite viver até sem mais aeroportos do que esses três, mas não irá durar a vida inteira. Teria que ter uma definição de destino, do que o governo espera da Infraero.

 

Quanto mais concessões, pior para a Infraero?

 

Não diria que é pior. Pode ser até bom. No primeiro momento, você perde a receita. Como a Infraero não demitirá ninguém nesse processo -essa é a orientação do governo-, não sei quantos funcionários serão absorvidos pelos concessionários. Se o nosso pessoal tiver uma absorção razoável, o problema é menor. Se não, é maior.

 

Quantos aeroportos podem ser concedidos sem que haja impacto à empresa?

 

Sem base científica, eu acho que a gente pode conceder um ou dois grandes, sem tsunami (risos).

 

E se houver mais concessões?

 

Vamos buscar fontes de receita. A Infraero poderá administrar aeroportos hoje precariamente geridos por Estados e municípios e fazer com que fiquem rentáveis. E podemos prestar serviços no setor aeroportuário.

 

Com as concessões, a vida do passageiro vai melhorar?

 

Melhora porque o nosso nível de serviços deixa a desejar, nem por conta dos funcionários, mas pela dificuldade de uma empresa pública. Por exemplo, se estraga uma escada rolante, tenho licitação; o concessionário tem uma agilidade que eu não tenho. E eu acho que não basta ampliar aeroporto e fazer obra sem parar, como no passado. Temos que trabalhar na gestão. Dá pra melhorar e muito a vida do passageiro sem fazer investimentos vultosos.

 

Como?

 

Fizemos um trabalho em Guarulhos que foi o acompanhamento das filas, a recepção do passageiro no local correto. Hoje temos muitas pessoas que viajam pela primeira vez. Ao direcioná-los, monitorar a fila para que fiquem com os documentos em mãos, melhoramos muito a performance.

 

A melhoria dos serviços, sob gestão privada, não pode deixar implícita a incapacidade da Infraero na gestão?

 

É uma leitura que pode acontecer. Mas é natural em todo lugar em que você troca a gestão. Se o nosso cliente, que é o usuário, entender e aceitar que aquela é uma forma melhor de gerir, não terei constrangimento em copiar.

 

As pessoas hoje chegam com cada vez mais antecedência aos aeroportos…

 

O passageiro tem que ficar menor tempo possível, seja em aeroporto ou em rodoviária. Passageiro vai pra viajar, não é [pra] passear. Tanto é verdade que em aeroporto fora acompanhante não entra em área de check-in; é só no Brasil que a família fica na fila do check-in. Não há recursos para fazer salões de embarque maiores. As pessoas também ficam com medo de perder o voo por causa do trânsito e chegam horas antes. Só que, quando o trânsito não tem problema nenhum, enche o aeroporto.

 

Como resolver?

 

Não dá para desestimular, porque é cultural o brasileiro levar parentes ao aeroporto. Temos que tornar o atendimento mais rápido.

 

E aos estacionamentos?

 

Só tem uma forma de resolver: ou melhora a infraestrutura pública, a forma de chegar ao aeroporto, ou aumenta estacionamento. Estacionamento nunca foi fonte de renda; agora, passou a ser negócio. A gente tem melhorado em Curitiba, Galeão, João Pessoa e Confins.

 

Os puxadinhos [os terminais provisórios] vão acabar?

 

Vão continuar. Chegaram para ficar, não são temporários, alguns são definitivos e são a solução para aeroportos regionais. São baratos, você faz um em seis meses.

 

O volume de passageiros cresceu 20% em 2011. Como será para o final deste ano?

 

Menor, porque a demanda tende a se acomodar. Para esse ano o crescimento será de 12% a 15%, algo em torno de 200 milhões de passageiros.

 

Qual a preocupação com o atraso em obras dos aeroportos para a Copa?

 

É uma preocupação normal, mas nada que preocupe excessivamente. Temos como bons exemplos Recife, Confins, Manaus, Guarulhos.

 

Folha de S. Paulo – Entrevista da 2ª A10