O número de focos de calor nos estados da Amazônia Legal, que coincidem em boa parte com a quantidade de queimadas detectadas no bioma, aumentou cerca de 50% no primeiro semestre de 2010 em relação ao mesmo período do ano passado.
A ocorrência de mais incêndios, geralmente mais comuns a partir de junho em quase todo o país, está relacionada a questões climáticas no ecossistema e pode ser influenciada pela economia e pela fiscalização.
Entre janeiro e junho de 2009, um total de 1.604 focos de calor foi registrado na Amazônia Legal, considerando apenas imagens geradas pela passagem noturna do satélite NOAA 15. O número subiu para 2.390 no mesmo período de 2010. Os dados estão disponíveis no Banco de Dados de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Usar esse satélite é uma forma de minimizar o registro de focos de calor como se fossem queimadas. Ele identifica superfícies com temperatura acima de 47 graus. O satélite que fotografa durante a tarde pode detectar rochas com temperatura acima disso”, explica Lara Steil, chefe substituta do PrevFogo, sistema por meio do qual o Ibama monitora e controla incêndios no país.
O estado com mais focos de calor detectados neste ano, usando apenas o NOAA 15, foi o Mato Grosso, com 1.267 ocorrências. Na sequência vem o Pará (451), Roraima (423), Maranhão (103), Rondônia (85), Amazonas (39), Amapá e Tocantins (ambos com 8) e Acre (6). Mato Grosso também teve mais ocorrências em 2009, com 973 focos, seguido de Roraima (265), Pará (156), Maranhão (115), Amazonas (45), Rondônia (22), Acre (13), Amapá (9) e Tocantins (6). O número total de ocorrências para o mesmo período foi de 2.117 para o ano de 2008 e de 1.144 para 2007, segundo dados do Inpe.
De acordo com Lara, a ocorrência de mais focos de calor em 2010 pode ser justificada, em parte, porque 2009 foi um ano “atípico”, segundo ela. “Choveu mais no ano passado e, consequentemente, houve menos incêndio”.
Para Alberto Setzer, pesquisador de queimadas do Inpe, o aumento na quantia de focos de calor também está relacionado a questões climáticas. “Este ano temos menos dias com chuvas e o período de estiagem está maior”, diz ele. “Mas há outros elementos que podem influenciar uma queimada.” No caso de Mato Grosso, estado com mais focos de queimada, uma proibição de usar o fogo para fins de agricultura começa em 15 de julho e vai até setembro para tentar minimizar os incêndios. “Posso supor que alguns agropecuaristas vão se antecipar a esta proibição e o número de queimadas vai crescer até o dia 15”, diz Setzer.
Segundo o pesquisador, a economia do país e o nível de fiscalização por órgãos ambientais também podem influenciar a incidência de queimadas. “Em 2008 e 2009 ainda havia uma crise econômica no mundo e tivemos menos desmatamento no Brasil”, diz ele. O pesquisador explica que o número de queimadas no primeiro semestre do ano é só uma amostra do que deve ocorrer nos próximos seis meses. “Pode ser que tenhamos um ano com menos queimadas do que 2009. De 80 a 90% das queimadas devem ocorrer mais para frente”, diz ele.
O período com mais queimadas vai geralmente até o fim de outubro, segundo Lara, e até lá os focos de calor devem aumentar ainda mais. “Isso se inverte um pouco em Roraima, que está no hemisfério Norte e tem o período de seca começando geralmente em novembro”, diz ela.
Globo Amazônia