JORNALISTA DIZ QUE DESAFIO É INVESTIR PARA MANTER CRESCIMENTO
MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO
As perspectivas de crescimento do país nos próximos anos estarão em pauta no evento “Brazil 2022: Ordem e Progresso?”, organizado pela revista “The Economist”, que acontece nos dias 3 e 4 de novembro no hotel Unique, em São Paulo.
Nomes como Barbara Bruns, principal economista do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Fernando Reinach, cientista e empreendedor, Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, e Fabio Coelho, presidente-executivo do Google no Brasil, confirmaram presença.
O título do evento é autoexplicativo. O país vive ciclo de prosperidade e protagonismo no cenário global. A questão é se fará os investimentos necessários para sustentar o crescimento.
Com os preços das commodities ainda altos, o momento não poderia ser mais oportuno. A lista de desafios é grande.
Michael Reid, editor responsável por América Latina na “Economist”e autor de “O Continente Esquecido: A Batalha pela Alma Latino-Americana” (editora Campus), abre o evento. À Folha ele falou sobre sua visão do cenário brasileiro:
Folha – Como você enxerga o país no contexto dos Brics?
Michael Reid – O Brasil é um poder regional, que se diferencia de China e da Índia por ter uma economia menor, portanto dificilmente crescerá ao ritmo dessas nações.
O que acha da gestão Dilma?
O começo foi promissor. Destacaria sua insistência em tentar melhorar a qualidade da gestão pública e a intolerância com a corrupção. E acho o Brasil sem Miséria potencialmente interessante.
Seria bom se ela fosse adiante nas reformas. Ela precisa aproveitar a enorme base de apoio que tem no Congresso.
A oposição está desarticulada, isso não é ruim para o país?
Sim. A tragédia da democracia brasileira é que PT e PSDB, que têm muitos pontos em comum, transformaram-se em dois polos opostos, em vez de se unirem para enfrentar o patrimonialismo.
Quais são os desafios imediatos para o Brasil?
O primeiro é reverter a renda proporcionada pelo boom das commodities em expansão da infraestrutura, dando suporte para a política educacional e de inovações.
O segundo é desenvolver um plano de ação para a extração de petróleo do pré-sal que não transforme a Petrobras em um gigante ineficiente como a Pemex, do México.
O terceiro é atacar o “custo Brasil”. O Brasil tem uma carga de impostos digna de um país rico, mas os serviços públicos em sua maioria são característicos de países pobres. À medida que os preços das commodities estão começando a cair, é hora de agir.
Nossos políticos são mais corruptos que a média?
Eu acho que o Brasil está começando a ganhar essa batalha, mas há ainda um longo caminho pela frente.
Foram dois séculos de um sistema político organizado em torno de interesses privados.
A pressão da imprensa, o Judiciário, o TCU, a presidente e a opinião pública são fundamentais.
O que tem achado da política de corte de juros mediante as metas de inflação?
É uma aposta, e pode dar certo. Mas a inflação não pode sair do controle, e esse é o outro lado da moeda. Seria uma tragédia se isso acontecesse, especialmente para os mais pobres.
Como enxerga o Brasil e a América Latina no contexto da crise financeira internacional?
Vão muito bem se comparados com Europa e Estados Unidos. Estão sendo beneficiados pelo superciclo de commodities e a industrialização de China e Índia.
Mas há riscos, especialmente se as finanças chinesas apresentarem dificuldade. O cenário mais provável é de um crescimento na base de 3% a 4%, menos do que os 5% a 6% necessários para a região enfrentar suas contradições sociais.
Os latino-americanos continuarão enfrentando seus problemas, mas não há perspectiva de desastre.
Que lições e exemplos bem-sucedidos o país tem a mostrar ao mundo?
Efetivamente o Brasil é um modelo na agricultura tropical. O sistema financeiro é forte e saudável, herança deixada pelas medidas do governo FHC nos anos 1990.
Mas mais concorrência nesta área faria bem -as taxas cobradas pelos bancos poderiam diminuir.
fonte: folha de sp