A existência de uma área de preservação ambiental não impediu que o tubarão-das-galápagos (Carcharhinus galapagensis) fosse extinto no arquipélago de São Pedro e São Paulo –paraíso da vida marinha a 627 km de Fernando de Noronha (PE).

Várias expedições –inclusive a histórica viagem de Charles Darwin no HSM Beagle, em 1832– dão conta de uma presença anormalmente alta desses bichos.

Entretanto, ao participar de missões científicas recentes, o biólogo da Unicamp Osmar Luiz Jr não encontrou sequer um exemplar.

Intrigado com a discrepância, o pesquisador decidiu investigar. Junto com Alasdair Edwards, da Universidade de Newcastle (Reino Unido), ele analisou dezenas de registros históricos e material recente sobre a espécie e sua presença no conjunto de ilhotas.

O resultado, publicado na revista “Biological Conservation”, é claro: o declínio das populações coincide com o início da pesca comercial no entorno do arquipélago, no início da década de 1950.

O último registro do encontro de tubarões-das-galápagos nadando na área foi em 1993. Cruzando os diversos dados e fazendo previsões estatísticas, Luiz Jr estimou em 1998, ou até antes, a extinção local da espécie.

Os tubarões acabam capturados acidentalmente pelos barcos que pescam atum e outros peixes na região. Não há plano de manejo específico para a pesca no entorno.

O sumiço do tubarão, um predador do topo da cadeia alimentar, pode ter consequências graves para todo o seu ecossistema. Predadores intermediários poderiam crescer descontroladamente, em um fenômeno conhecido como cascata trófica.

“Diretamente, os tubarões controlam a população de suas presas e, indiretamente, a população dos organismos que elas consomem”, disse Luiz Jr à Folha.

Segundo o cientista, é possível que, eliminada a pressão da pesca, possa haver uma recolonização da espécie no arquipélago.

CRÍTICAS
O coordenador do Proarquipélago (única estação científica em São Pedro e São Paulo), Fábio Hazin, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, discorda do resultado do trabalho.

Hazin diz ter encontrado três exemplares da espécie capturados acidentalmente em um barco da região. O trabalho que descreve o encontro ainda não foi publicado. O pesquisador
concorda, no entanto, que o ecossistema foi abalado. “Houve uma redução dramática [do número de tubarões]. Isso é inegável”.

Após a publicação do trabalho de Luiz Jr, circularam em fóruns na internet críticas aos resultados de Hazin, que é filho do fundador da empresa Norte Pesca, que atua no Nordeste. “Está havendo perseguição. Eu nunca tive nada a ver com a empresa”, disse.

 

Fonte: Folha