Santo Antônio Energia alcança pico da contratação e começa a debater o que fazer com mais de 20,6 mil pessoas

Hidrelétrica tem obra em ritmo acelerado; geração de energia da primeira turbina deve ocorrer em dezembro

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO (RO)

Nilde de Almeida, 23 anos, desistiu de ser empregada doméstica para ser carpinteira.
Mas o plano dessa rondoniense de participar da construção das usinas do rio Madeira pode se limitar somente a um sonho.
Após capacitar 47,1 mil pessoas, a hidrelétrica de Santo Antônio alcançou o pico das contratações. A estimativa é que as demissões comecem no segundo semestre de 2012.
“Chegamos a 20.657 trabalhadores no canteiro. Não devemos crescer muito mais do que isso. Vamos ficar com esse contingente até o início do segundo semestre de 2012 e aí começamos a reduzir”, diz Welson Correa Pinto, gerente responsável pela obra.
A pressa para a construção das hidrelétricas de Santo Antônio e de Jirau, as duas no rio Madeira, vai antecipar a ampliação da oferta de energia ao país, mas terá, como efeito colateral, a demissão precoce de trabalhadores.
O assunto mobiliza a Prefeitura de Porto Velho.

BOBEADA
“Há uma grande preocupação com a desmobilização das obras das usinas. E temos de reconhecer que o poder público bobeou”, diz Pedro Beber, secretário de Programas Especiais da prefeitura.
O diagnóstico: a chegada de gente e de investimentos trouxe mais problemas do que as compensações exigidas para a obra foram capazes de atender. O passivo social de antes permanece e pode ter aumentado.
Em 2005, a capital rondoniense tinha 350 mil habitantes. O censo do IBGE mostrou que a população chegou a 426 mil pessoas.
Há carência de vagas em hospitais. Existe insegurança. O trânsito inflado com um aumento de 17% da frota piorou. A situação do saneamento da capital é crítica.
Porto Velho tem 1.500 quilômetros de ruas -somente 420 quilômetros asfaltados, sendo 120 deles em quatro anos.
A falta de planejamento exigirá que parte dessa obra seja refeita. O asfalto foi colocado em ruas em que ainda não foram instalados os dutos de água e de esgoto.
A cidade tinha 50% da população atendida com rede de água. A expansão demográfica reduziu a cobertura a 40%. O serviço de esgoto atendia 3% da população. Atualmente, são 2%. Quem visita a capital pode ver o esgoto que escorre das fossas para as vias da cidade.
A solução desse problema poderia reduzir o número de pessoas doentes em leitos improvisados nos corredores do hospital de Porto Velho.
Um total de R$ 30 milhões para infraestrutura previsto nas compensações impostas à usina de Santo Antônio foi aplicado no município de Cacoal, reduto eleitoral do ex-governador Ivo Cassol.

MAIS DINHEIRO
Beber, encarregado de negociar compensações com as usinas, fez as contas e entende que R$ 450 milhões de exigências sobre as usinas voam sem destino.
Com pilhas de diagnósticos e de mapas, ele diz que essa verba pode amenizar parte da carência da cidade.
Não é a conta que a Santo Antônio Energia faz. A empresa afirma ter aplicado cifra bilionária em exigências imposta pelo Ibama.
“Vamos discutir a desmobilização? Vamos, mas antes quero dizer que já aplicamos R$ 1,3 bilhão, que o município vai receber R$ 234 milhões em ISS [Imposto sobre Serviços] e que já formamos 47 mil pessoas.
Achamos que o plano de desmobilização já começou”, diz o gerente de sustentabilidade da Santo Antônio Energia, Ricardo Márcio Martins Alves.


O jornalista AGNALDO BRITO viajou a convite da Santo Antônio Energia

 

Fonte: Folha de São Paulo