Por Jorge Eduardo Dantas
Capacitar produtores rurais do município de Apuí, no Sul do Amazonas, no manejo sustentável da madeira, foi o objetivo do curso Introdução ao Manejo Florestal, realizado no início do segundo semestre pelo WWF-Brasil em parceria com o Instituto de Projetos e Pesquisas Socioambientais (Ipesa), o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Amazonas (Idam) e a cooperação alemã GIZ.
Capacitar produtores rurais do município de Apuí, no Sul do Amazonas, no manejo sustentável da madeira, foi o objetivo do curso Introdução ao Manejo Florestal, realizado no início do segundo semestre pelo WWF-Brasil em parceria com o Instituto de Projetos e Pesquisas Socioambientais (Ipesa), o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Amazonas (Idam) e a cooperação alemã GIZ.
O curso foi realizado na Vila do Carmo, também conhecida como “Matá-Matá” e contou com a participação de 28 produtores e produtoras rurais, reunindo extrativistas das comunidades de Bela Vista do Guariba, Nova Esperança e Vila Batista.
Os dois primeiros dias da capacitação foram dedicados à parte teórica, onde foram apresentados um panorama do setor florestal na Amazônia e conceitos básicos sobre manejo florestal, a importância desta prática e os benefícios econômicos, sociais e ambientais deste tipo de intervenção na floresta.
Outros temas discutidos na ocasião foram as legislações existentes sobre o assunto, as etapas de elaboração e aprovação de planos de manejo florestal sustentável de pequena escala e os custos e rendimentos financeiros desta atividade para as comunidades.
Pesquisa de mercado está em curso
Ainda nesta etapa foram apresentados os dados iniciais de um estudo do mercado da madeira no município de Apuí. A pesquisa está sendo conduzida pelo Idam e GIZ e tem como objetivo mapear os empreendimentos de base florestal, a demanda de madeira, os preços e principais espécies comerciais da região. Posteriormente, ela será utilizada como ferramenta para fazer a ligação entre o mercado e os produtores da área, tentando garantir contratos de compra para os participantes do curso.
O terceiro e último dia da capacitação foi dedicado a atividades práticas que focaram na construção dos inventários florestais. Técnicos do Ipesa e do Idam auxiliaram os participantes a escolher áreas, demarcar perímetros, localizar árvores em trilhas e identificar e medir espécies florestais. Nesta etapa, os participantes tiveram contato com a rotina do manejo florestal madeireiro, utilizando bússolas nas caminhadas floresta adentro, abrindo ‘picadas’ no meio da mata, medindo árvores e fazendo anotações em pranchetas.
De acordo com o calendário construído durante a capacitação, ao longo do mês de agosto os inventários serão realizados junto às comunidades, com o Idam e Ipesam orientando este processo. Em seguida, os planos de manejo serão apresentados ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), já que estão sob áreas de assentamento. A expectativa é que até o mês de dezembro os inventários sejam apresentados ao órgão estadual responsável pela concessão de licenciamentos, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).
A previsão, após cálculos feitos durante o curso, é extrair 122 metros cúbicos de madeira serrada ao ano na área – e utilizar esta madeira para aumentar a renda das famílias envolvidas nesta capacitação. Está prevista a construção de cinco planos de manejo, que vão contemplar cerca de 2 mil hectares na região.
Mudança de mentalidade
O analista de conservação do WWF-Brasil, Marcelo Cortez, fez uma avaliação positiva da atividade. “Muitos participantes já tinham ouvido falar de planos de manejo e trabalho sustentável com madeira. No entanto, eles sempre consideraram este assunto algo distante e de difícil acesso. Mas conseguimos apresentar e demonstrar conceitos que foram fundamentais para que uma mudança de mentalidade ocorresse entre eles”, explicou.
O gerente de apoio à produção madeireira do Idam, Eire Vinhote, contou que o curso teve o objetivo de oferecer uma alternativa econômica diferenciada às famílias que vivem naquela região. “A pressão das madeireiras pela exploração insustentável e pelo desmatamento é muito grande. Estamos investindo no manejo de pequena escala porque ele agride menos o Meio Ambiente e gera mais benefícios para os produtores”, afirmou. Segundo Vinhote, a idéia é impedir que práticas florestais agressivas – como o uso de tratores, transporte de toras e os “arrastões” – prosperem naquela área.
O produtor Carlos Alves da Silva, 29, conhecido na região como “Pelado”, mora no Matá-Matá e participou do curso. Ele afirmou que a atividade foi muito importante. “É muito raro participarmos de alguma programação com pessoas que vêm da capital e que compartilham o que sabem conosco”, contou. Segundo Pelado, muitos produtores não sabiam como trabalhar com manejo florestal de pequena escala. “Muito dos conteúdos que vimos no curso eram novidade; há colegas que sequer sabiam o que significava o termo ‘manejo florestal”, disse.
A Medida de Desenvolvimento
Desde o primeiro semestre de 2011, o WWF-Brasil apóia uma iniciativa intitulada Medida de Desenvolvimento: Produção Florestal e Agroflorestal no município de Apuí. Esta iniciativa é constituída de uma serie de ações integradas que têm como objetivo promover o manejo florestal, o reflorestamento, o extrativismo e os sistemas agroflorestais na região, buscando a geração de emprego e renda de forma sustentável no Sul do Amazonas.
Cerca de 10 instituições, entre entidades governamentais, órgãos da sociedade civil, associações e cooperativas de produtores – e, entre elas, o WWF-Brasil – estão envolvidas neste trabalho. Desde o ano passado, a iniciativa já realizou oficinas de boas práticas em manejo florestal, ministrou cursos de elaboração de projetos a associações e cooperativas do município de Apuí e intermediou acordos de compra e venda de copaíba.