O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou nesta quinta-feira (25) que os resultados do 1º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários mostram a “falência do sistema público de transporte”, no Brasil. O estudo indica que o setor de transportes é o que mais causa impactos na qualidade do ar, e a modalidade dos rodoviários é responsável por 90% das emissões de gases poluentes e de CO2.
“É um quadro mais direto para estimular políticas alternativas. Na França, com a rede de integração e a rede de metrô, as pessoas usam carro de noite ou quando vão sair de Paris. Aqui, você vê um dado impressionante, ou seja, o número de passageiros por ano transportados com carro e moto individual é praticamente idêntico ao número de passageiros que usam transportes públicos. Acho esse dado completamente gritante e chocante e mostra realmente a falência do sistema público de transporte, o atraso do metrô, as deficiências do trem, questões que a gente tenta enfrentar agora em algumas cidades com o bilhete único, com integração dos modais”, desabafou Minc.
Dados da pesquisa revelam que o transporte de passageiros individuais emite 40 vezes mais poluentes do que o transporte público na condução do mesmo número de pessoas. Segundo a pesquisa, enquanto 16,8 bilhões de passageiros usam transportes públicos, 17 bilhões (valor quase idêntico) usam veículos individuais (motos e carros).
Os resultados do estudo apontam para a emissão de 1,5 milhão (83%) de toneladas de CO (monóxido de carbono) através de veículos individuais (motos e carros) e 34 mil (2%) de toneladas de CO por transportes públicos. Para Minc, a diversificação do setor de transportes no Brasil é o setor que merece mais atenção para que possa haver redução de gases poluentes.
“Isso vai ser bom para o meio ambiente e para a economia, uma vez que vai reduzir, por exemplo, o valor do transporte de grãos”, afirmou.
O ministro apontou também a “falência do transporte público” como a principal causa do crescimento de motocicletas no Brasil, que passou de cerca de 270 mil (1980) para 9,2 milhões, em 2009. Segundo o estudo, apenas 2% do total de motos registradas no ano retrasado são flex — que usa tanto álcool quanto gasolina.
“Acho que é até uma das explicações desse crescimento exponencial das motos, a pessoa demora com todos os modais, é caro, demora duas horas para chegar ao trabalho. Daqui a pouco, compra uma moto a prestação e isso deve dar quase o que ele paga de ônibus e trem. Eu acho que a falência do transporte público sobre trilhos, a questão do custo da tarifa ser elevado e da integração dos modais não ser tão boa, talvez seja uma das explicações desse pulo exponencial das motos”, afirmou Minc.
Os dados do 1º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários foram divulgados nesta quinta-feira na Agência Nacional de Petróleo, no Rio. O ministro do Meio Ambiente explicou que o documento foi feito por várias entidades do setor e que vai orientar políticas públicas destinadas à melhoria da qualidade do ar.
Aumento de CO2
A pesquisa mostrou ainda que o CO2 (dióxido de carbono), apontado como gás de efeito estufa, aumentou de 60 milhões de toneladas na década de 80 para 140 milhões de toneladas em 2008. Para Minc, apenas investimentos na rede de transporte público e políticas de biocombustível podem reduzir a emissão de CO2.
“Se você não tiver muitas alternativas de trem e de hidrovia, de transporte público, o simples aumento do biodiesel ao diesel, apesar de ajudar muito, não resolve. Tem que combinar uma mudança de peso dos modais na participação tanto do transporte de passageiro como de transporte de carga”, disse o ministro.
Folha de São Paulo