Por Ieda Novais*

O bilionário americano Sam Zell, do grupo Equity International, esteve no Brasil nos dias 23 e 24 de junho para verificar oportunidades e expandir investimentos no País. Zell, que já tem participações em cinco empresas brasileiras, entre elas a Gafisa e a BR Malls, afirmou na ocasião que o país vai muito bem, disse não temer o risco de superaquecimento da economia e elogiou a opção brasileira por apostar no crescimento sem abrir mão da disciplina fiscal.

A percepção de Zell está correta. De fato, o Brasil desponta hoje, no cenário mundial, como o mais promissor dos países emergentes.

Mas há lacunas que precisamos preencher nas áreas de infraestrutura – e este quesito abrange um amplo escopo, que vai da universalização do acesso aos serviços básicos de saneamento à ampliação e melhoria dos portos, aeroportos e rodovias, do suprimento das carências da população em termos de moradia à construção de usinas que gerem a energia necessária ao crescimento do País.

Há, evidentemente, uma clara intenção por parte dos governos federal e estaduais de converter o Brasil num amplo canteiro de obras. E será muito sábio otimizá-las, ou seja: além de materializar tudo aquilo de que o País precisa, os responsáveis pelas grandes e pequenas obras que estão previstas devem estar atentos à questão ambiental.

Isso é necessário por dois motivos. Primeiramente, é imprescindível cumprir uma agenda importante para o povo brasileiro, que cada vez mais clama pelo respeito ao meio ambiente e pela atenção aos problemas sociais. Em segundo lugar, existe uma possibilidade real de gerar créditos de carbono para o País. Neste sentido, os cuidados ambientais se transformam em bom negócio.

Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) corresponde a um crédito de carbono. A redução da emissão de outros gases de efeito estufa (GEEs) também pode ser convertida em créditos de carbono – para isso, utiliza-se o conceito de carbono equivalente. Esses créditos podem ser negociados no mercado internacional, onde, grosso modo, os países industrializados adquirem créditos dos países em desenvolvimento, e, dessa forma, obtêm uma espécie de aval para emitirem GEEs em suas atividades.

O crédito de carbono é gerado quando uma empresa consegue diminuir suas emissões abaixo das cotas determinadas pelas leis em vigor. Quando isso acontece, ela pode vender, a preço de mercado, o excedente de “redução de emissão” ou “permissão de emissão”.

O setor da construção civil responde por 40% do consumo de energia, 30% do uso de matérias-primas, 20% da água, 40 % das emissões globais de GEEs, 30 % dos resíduos sólidos descartados e 20 % dos efluentes líquidos lançados nos corpos d’água. É um setor que, por sua própria natureza – sem trocadilhos! –, gera imenso impacto ambiental. Por outro lado, gera empregos para mais de 110 milhões de pessoas ao redor do mundo e recebe investimentos da ordem de três trilhões de dólares anuais.

Unindo agora as pontas de raciocínio, temos um setor economicamente forte, vital para o crescimento econômico de qualquer país, e em especial do Brasil, mas que ao mesmo tempo é ávido consumidor de recursos – e, justamente por isso, pode se transformar em gerador de créditos de carbono, na medida em que for capaz de tomar providências que o tornem sustentável.

Um primeiro passo é o uso exclusivo de madeira certificada, ou seja, oriunda exclusivamente de manejo sustentado. O Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) forneceu as metodologias necessárias para que se estime a contribuição dos Produtos Florestais Madeireiros na redução do carbono atmosférico (antes de se tornar matéria-prima, a madeira é árvore, que, quando jovem, captura CO2 da atmosfera). A Organização Internacional de Padronização (ISO) já está desenvolvendo uma norma técnica que permita a contabilizar as emissões de GEEs das cadeias produtivas de vários setores, incluindo o da madeira.

Outra medida interessante é priorizar a aquisição de materiais como tijolos e ferro de indústrias que praticam boas políticas ambientais, especialmente no tocante ao uso de energia limpa e à redução do consumo de recursos hídricos. Também é possível implantar, na própria obra, mecanismos para o aproveitamento da luz natural e para o uso racional dos recursos hídricos. Além disso, cada projeto deverá ser pensado de modo a causar o menor impacto possível ao meio ambiente no qual esteja inserido.

Aliando engenharia de alto padrão e criatividade, as empresas brasileiras responsáveis por tocar as obras que vão colocar o Brasil no caminho do sonhado protagonismo econômico e social poderão desempenhar um papel verdadeiramente transformador – e, principalmente, terão um interessante universo a desbravar no terreno da sustentabilidade.

* Ieda Novais é diretora corporativa da BDO, quinta maior empresa do mundo em auditoria, tributos e advisory services.