Um ano depois do fracasso da conferência de Copenhague, representantes de mais de 190 países se reúnem novamente a partir desta segunda-feira (29) para discutir o que fazer contra o aquecimento global.

O cenário da conferência do clima mudou radicalmente: da gélida capital da Dinamarca (-14ºC) para o cálido balneário mexicano de Cancún (+ 30ºC). Espera-se a presença de cerca de 10 mil pessoas e 30 chefes de Estado.

O presidente Lula, no entanto, não estará presente. O motivo da desistência é ausência prevista de dirigentes de países europeus. Isso tornaria os debates “pouco práticos” e sem o efeito global esperado.

Os impasses continuam os mesmos: nações ricas e pobres não conseguem acordar sobre quanto cortar de suas emissões de carbono até 2020 -e em que termos.

As divergências só se aprofundaram no último ano: com o naufrágio da lei de clima e energia no Senado dos EUA, o maior poluidor histórico chega ao México sem poder oferecer muita coisa.

Nem mesmo o pífio corte de 17% de suas emissões em relação a 2005 que o presidente Barack Obama havia prometido em Copenhague está mantido.

Além disso, a derrota de Obama nas eleições legislativas trouxe uma leva de parlamentares que sequer acredita em aquecimento global -entre eles o novo presidente da Câmara dos Representantes, John Bohmer.

Um dos novos deputados, Darrell Issa, prometeu até uma CPI para investigar os climatologistas.

Aliado à crise econômica, que arrefeceu as políticas de defesa do clima de vários países desenvolvidos, esse contexto criou uma tempestade perfeita para que Cancún seja uma conferência em torno da qual não há expectativas.

“Não se cristaliza um mau momento”, declarou na semana passada o negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo Machado.

Um novo acordo global do clima, com peso de lei internacional, não deve ser fechado antes de 2012, ano em que expira o tratado existente, o Protocolo de Kyoto.

Cabe a Cancún, portanto, manter a bola das negociações rolando sem fixar metas ou prazos. Hoje, fala-se em “caminhada”, “nova etapa” e “avanço incremental”.

O principal resultado de Cancún será a adoção oficial de elementos do Acordo de Copenhague, a pífia declaração política que não teve a adesão de todos os países.

Apesar de ser uma mera carta de intenções, o acordo tem sinalizações em cinco áreas: mitigação (redução de emissões), adaptação, finanças, tecnologia e florestas.

“ACORDINHOS”
O objetivo da COP-16 (16ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU), nome oficial do encontro, é “matar” o Acordo de Copenhague e fechar miniacordos nessas áreas.

O único avanço esperado na área de mitigação é que não haja um retrocesso: os países em desenvolvimento esperam que os desenvolvidos concordem com a continuação do acordo de Kyoto, que teria um novo período de compromisso. Os desenvolvidos são contra porque os EUA estão fora de Kyoto.

Em florestas, espera-se que seja finalizado o acordo de Redd + (Redução de Emissões por Desmatamento), que permitirá que os países com florestas tropicais como o Brasil comecem a receber para conservá-las.

Na área de financiamento, Copenhague avançou ao estabelecer a criação de um Fundo Verde e determinar que os países ricos levantem US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020 para ações de adaptação e corte de emissões nos países em desenvolvimento. Cancún deverá decidir como o dinheiro será aplicado e gerenciado.

FSP