Visita de presidente dos EUA ao Brasil abre chance para combater deficit comercial e devolver relação bilateral a trilhos menos conflituosos

Depois do período de esfriamento nas relações entre Brasil e EUA, no segundo mandato de Lula, a visita de Barack Obama ao Brasil de Dilma Rousseff, sábado e domingo, oferece boa oportunidade para reconstituir uma agenda de cooperação bilateral.
O aumento do intercâmbio comercial com os EUA deve ser uma prioridade brasileira. O mercado americano ainda é o maior consumidor e importador global, condição mal aproveitada pelo Brasil.
É impressionante que o país tenha deficit comercial de US$ 7,8 bilhões com os EUA. Quase todos os países de peso no comércio internacional têm saldos positivos.
Tal estado de coisas diz muito sobre os problemas de competitividade e falta de foco do Brasil quando se trata de conquistar mercados. O país insiste há anos nos mesmos contenciosos -aço, carnes, suco de laranja, álcool-, quando mais de 85% das importações dos EUA se encontram livres de restrições tarifárias e cotas.
Esse espaço tem sido bem explorado por outros países. A criação de dispositivos bilaterais para rápida solução de entraves seria o início de uma agenda positiva. A cooperação em ciência e tecnologia é outro campo que pode render mais para ambos os lados – energias renováveis à frente.
É certo que a liberalização das importações de álcool por parte dos EUA dificilmente será atendida em prazo curto, tendo em vista os subsídios concedidos pelo governo americano ao biocombustível de milho. O Brasil deve persistir na denúncia das barreiras ao álcool, que acabarão por ruir sob o peso da superioridade do produto nacional e das limitações à produção nos EUA, mas não deve fazer disso uma precondição.
Por outro lado, essa justa expectativa brasileira não elimina a possibilidade de pesquisa conjunta na área de fontes renováveis como um todo, que ganharão importância na matriz energética global nas próximas décadas. Álcool celulósico, que permitiria aproveitar toda a biomassa de plantas como a cana, e energias solar e eólica, setores que a China elegeu para atuar com agressividade, constituem alvos estratégicos para a cooperação tecnocientífica.
Não se deve contar que a visita de Obama traga avanços imediatos. Mesmo assim, após o estranhamento dos últimos anos, em parte consequência de inclinações ideológicas da diplomacia brasileira, chegou a hora de encetar uma nova parceria estratégica.
Será um bom teste para a noção de que Dilma Rousseff busca inflexão mais substancial na política externa, que vá além da já percebida correção de rumo na área nevrálgica dos direitos humanos.

fonte: Folha de SP