O subsecretário-geral das Nações Unidas Achim Steiner criticou ontem o Brasil por mandar “sinais trocados” nas negociações da Rio+20 e cobrou liderança do país anfitrião da conferência da ONU.
Para ele, as preparações “não estão onde deveriam estar” e, na cena internacional, já se começa a comparar a Rio+20 com a fracassada conferência do clima de Copenhague. Alemão nascido no Rio Grande do Sul, Steiner é diretor-executivo do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente).
Ele falou durante um evento do Ministério do Meio Ambiente, no Rio, onde foi debatida governança ambiental, um dos eixos da conferência.
O Itamaraty, que conduz a negociação em nome do governo brasileiro, não mandou representantes ao evento.
Habibou Bangre-11.out.11/France Presse |
Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente) |
“O mundo não está discutindo a Rio+20 como discutiu a Rio-92”, afirmou, dizendo que uma posição mais proativa do Brasil é um dos fatores capazes de transformar a reunião de junho numa cúpula de fato, “e não numa mera conferência” da ONU.
Um dos alvos da crítica é a relutância do país em apoiar a transformação do Pnuma em agência independente da ONU, como a Organização Mundial da Saúde.
Segundo ele, a importância da questão ambiental hoje torna necessário aumentar o poder dos ministros do Ambiente de influir na chamada “governança” internacional, pautando ações de governos.
Ministros da Saúde têm esse poder, via agências como a OMS. Mas o Pnuma não tem capacidade análoga.
Segundo Steiner, um Pnuma “turbinado” também ajudaria a tornar mais eficiente a governança ambiental.
Hoje existem cerca de 500 convenções ambientais na ONU. Só as 14 mais importantes demandaram, na conta do subsecretário, mais de 800 dias de reuniões em 2011. Uma agência como a OMS resolve alguns assuntos com meras resoluções, disse.
A criação da nova agência foi proposta pela União Europeia e conta hoje com a adesão de mais de 120 países.
O Brasil tem se posicionado de forma dúbia a respeito para não se indispor com países como os EUA, que não querem uma nova agência -e cuja participação é vital para o sucesso da Rio+20.
“O Brasil pode fazer uma de duas coisas: colocar-se ao lado dos países que querem mudar o mundo ou manter o status quo”, disse Steiner. “Não estou dizendo que uma agência é a melhor solução, mas, se você tem uma ideia melhor, coloque-a na mesa.”
Fonte: Folha.com