A Vale e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) lançaram no último dia 9, o primeiro de uma série de três relatórios sobre mudança do clima e seus impactos na vegetação, agricultura, biodiversidade e capacidade de geração de energia nos Estados do Pará e do Maranhão, onde a empresa possui importante presença. Neste primeiro relatório, os pesquisadores do Inpe estudaram a variação do clima e da temperatura em três períodos: 2010-2040, 2041-2070 e 2071-2100. O trabalho servirá de base de informação para a elaboração dos relatórios subseqüentes, previstos para março e abril de 2009.

O estudo é inédito por causa do seu nível de detalhamento regional, pela inclusão de projeções para períodos mais próximos (especialmente o período entre 2010 e 2040) e pela consideração de dados meteorológicos do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia). Para a análise, foram combinados critérios de avaliação climática adotados no AR4 – Fourth Assessment Report , do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU) com três modelos regionais (Eta CCS, do próprio Inpe; RegCM3, da Universidade de São Paulo; e HadRM3P, do Haddley Centre, do Reino Unido). Foram utilizadas ainda informações de 36 estações pluviométricas e climatológicas espalhadas pela região – 10 da Agência Nacional das Águas (ANA) e 26 do INMET.

Os pesquisadores consideraram dois cenários do IPCC para a elaboração da análise: A2 (mais pessimista, com alta concentração de emissões de gases do efeito estufa) e B2 (mais otimista, com baixa concentração de emissões de gases do efeito estufa, que leva em conta o cumprimento das metas do protocolo de Kyoto).

Em resumo, o relatório mostra que o clima da região se tornará cada vez mais quente e seco ao longo do século. A estimativa é de que, já entre 2010 e 2040, a temperatura pode ficar até 2 o C mais quente na área que abrange o leste do Pará até o Maranhão. No período de 2041-2070, a previsão é de um aumento de até 4 o C. Quanto aos índices pluviométricos, a projeção é de redução de chuva de até 10%, entre 2010 e 2040, e de até 20%, entre 2041 e 2070. Para essas projeções os pesquisadores utilizaram o modelo HadRM3P, do Haddley Centre, e concluíram que as variações de clima e temperatura não apresentam grandes diferenças entres os cenários A2 e B2.

Para o período de 2071-2100, a conclusão do relatório é de aumento ainda maior da temperatura, com alternância de períodos longos de clima seco com precipitações concentradas em poucas épocas do ano. As reduções de chuva podem ficar entre 2 e 4 mm/dia em relação ao atual clima da região. A temperatura deve aumentar em toda a região leste do Pará até o Nordeste, chegando a até 7 o C nas regiões do leste da Amazônia e no norte do Maranhão no cenário A2, sendo o aquecimento menor (até 4 oC) no cenário B2.

“O aquecimento é observado na média anual e nos meses de verão e inverno e tem algumas variações entre os modelos”, ressalta o estudo, que faz uma análise detalhada para cada estação do ano. As reduções de precipitação nas áreas leste do Pará (próximas à foz do Rio Amazonas) e norte do Maranhão podem variar entre 40% e 60%, no cenário A2, e entre 20 e 40% no cenário B2.

“Esses resultados levam a concluir que a área de estudo apresenta uma vulnerabilidade climática muito alta, comparável ao semi-árido do Brasil, consistente com um clima futuro mais seco que o atual, com algumas áreas recebendo chuvas intensas concentradas em períodos curtos, seguidos de longos períodos sem ocorrência de chuva e com altas temperaturas diurnas e noturnas. Nestas condições, o balanço hidrológico poderá sofrer alterações, ocorrendo período de deficiência hídrica futura, atualmente inexistente no clima atual, e, conseqüentemente, afetar a vegetação nativa e a agricultura regional”, afirma o estudo.

Os pesquisadores do Inpe ressaltam, porém, que, apesar dos vários modelos utilizados, ainda existe um certo grau de incerteza em relação ao futuro cenário climático do planeta e que essa incerteza aumenta quando se avalia com maior detalhamento os cenários regionais.

Medidas preventivas
O estudo coordenado pelo Inpe é mais um importante elemento de construção da estratégia de desenvolvimento sustentável da Vale para a região. O objetivo da empresa é elevar o nível de conhecimento em relação aos impactos do aquecimento global nas regiões onde atua e, desta forma, criar subsídios para o estabelecimento de políticas públicas e de medidas preventivas para suas operações.

Tendo o desenvolvimento sustentável em sua missão, a Vale vem investindo fortemente em projetos que promovam benefícios econômicos, sociais e ambientais. Em 2007, a Vale investiu US$ 4 bilhões no Pará. Em projetos ambientais, a empresa investiu US$ 110,2 milhões, valor 834% superior aos US$ 11,8 milhões investidos em 2006. Já no Maranhão, foram investidos US$ 1 bilhão em 2007 – valor 34% maior do que os US$ 741,8 milhões investidos no ano de 2006. Os dispêndios ambientais tiveram um crescimento de 234% em relação aos US$ 7,6 milhões efetuados em 2006, chegando a US$ 25,4 milhões em 2007.

E os investimentos irão crescer. Para 2008 a 2012, a empresa já anunciou que irá investir US$ 2,8 bilhões em meio ambiente em todos os países em que está presete. Deste total, US$ 692,5 milhões serão destinados somente ao estado do Pará.

Vale Florestar
Um dos principais projetos ambientais da Vale na região Norte é o Vale Florestar, concebido para proteger e recuperar as florestas nativas do sudeste do Pará, combinando o plantio de espécies da região com árvores de uso industrial. Este projeto constitui-se em uma iniciativa importante para mitigação da mudança do clima. O Vale Florestar é, atualmente, o maior projeto de recuperação ambiental já implantado na Amazônia. Iniciado em 2007, o programa receberá investimentos de US$ 300 milhões até 2015, dos quais US$ 60 milhões até o fim de 2008. A área total a ser beneficiada pelo programa é de 300 mil hectares, o que possibilitará o seqüestro de CO2 em volumes recordes. Até agora, o Vale Florestar já plantou mais de 11 milhões de mudas e recuperou 40 mil hectares, sendo 15 mil plantados com eucalipto e 25 mil destinados à revegetação de mata nativa da região. Entre próprios e terceirizados, 1.250 empregados estão trabalhando no programa.

Além disso, a Vale já ajuda a proteger quase 3 bilhões de árvores ao redor do mundo, a maior parte delas na Amazônia. São 14 árvores para cada brasileiro, considerando a população atual, de 190 milhões de habitantes. O total equivale ainda a quase a metade da população do planeta, cuja população é de 6,6 bilhões de pessoas. O estoque de gás carbônico estimado é de em 1 bilhão de toneladas.

Revista Ecoturismo