O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) apresentou ontem um estudo da Embrapa segundo o qual o avanço da tecnologia na agropecuária poderá contribuir com cerca de 20% da meta para reduzir a emissão de gases de efeito estufa até 2020. Minc quer incluir o setor, cujas emissões dispararam entre 1990 e 2007, na conta da meta de 40% de redução de emissões para o Brasil em 2020 em relação ao cenário tendencial. A proposta do Ministério do Meio Ambiente vem enfrentando resistências no governo.

Segundo estimativa da pasta, caso a economia cresça 4% ao ano, o Brasil emitirá cerca de 2,7 bilhões de toneladas de gases-estufa daqui a 11 anos. A meta é reduzir a projeção a 1,7 bilhão de toneladas. Estimativa divulgada ontem pelo Meio Ambiente mostra que a agropecuária respondia, em 2007, por 25% das emissões -479 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente/ano. Segundo a Embrapa, para evitar a emissão de quase 200 milhões de toneladas de gases-estufa, seria necessário: promover a integração lavoura/pecuária em 10% das áreas de pasto do país, recuperar 10% das pastagens degradadas; e promover o plantio direto em 40 milhões de hectares.

Para chegar aos 40% de desvio na trajetória de emissões, Minc propõe condicionantes: entre outras, contribuição financeiras de países ricos, redução do desmatamento na Amazônia e no cerrado e um plano para que as siderúrgicas do país plantem todas as árvores usadas para a produção de carvão.

Tudo isso faz parte da estratégia de Minc para tentar emplacar os 40% como proposta oficial do Brasil para a conferência do clima da ONU agendada para o início de dezembro em Copenhague. O plano, que está sendo detalhado por exigência do Ministério da Ciência e Tecnologia, será apresentado a Lula na semana que vem.
Minc viaja hoje a Barcelona, onde participará de reuniões preparatórias para o encontro.

Arroto bovino
Entre 1994 e 2007, houve um avanço de 28% na emissão de gases-estufa, segundo a estimativa divulgada pelo Meio Ambiente. O número é semelhante à estimativa feita por pesquisadores da USP de Piracicaba, relatada na última segunda-feira pela Folha: aumento de 24,6% entre 1990 e 2005.

Boa parte disso vem da fermentação no estômago do gado, que libera metano (um gás-estufa poderoso). Segundo a USP, o arroto dos bovinos responde por 12% das emissões brasileiras de gases-estufa. Segundo o IBGE, o rebanho brasileiro cresceu 26% entre 1994 e 2007, passando de 158,2 milhões para 199,7 milhões de cabeças de gado. No período, a emissão de gases-estufa da agropecuária cresceu 30%, ante 54% do setor energético.

A estimativa apresentada por Minc tem o desmatamento como o grande vilão, com 51,9% das emissões de gases-estufa, seguido da agropecuária (com 25%) e energia (20%). Incluídos todos os setores, o Brasil é o quinto maior poluidor do mundo, atrás apenas de China, EUA, Rússia e Indonésia.

Eduardo Scolese
Folha de São Paulo