Representantes da sociedade civil, comunidade acadêmica e científica e setor privado definiram propostas para combater a fome e produzir alimentos de forma mais justa

O debate “Segurança alimentar e nutricional”, que marcou o encerramento do segundo dia dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, na noite deste domingo, 17, começou com um ponto de consenso. “Há grupos ignorados pela cadeia de produção e consumo alimentar que precisam ser incluídos neste debate: os pequenos produtores e as mulheres”, anunciou o moderador do painel, Paulo Prada, da Reuters, referindo-se a conversas nos bastidores entre os dez palestrantes.

 

A valorização dos dois grupos foi ressaltada como ponto estratégico para tentar mudar uma realidade muito dura. Estima-se que um bilhão de pessoas sofra com a fome no planeta e outro bilhão não tenha acesso à nutrição adequada. Até o final do século, haverá o desafio de alimentar um número estimado de 11 bilhões de pessoas no planeta.

 

Primeira convidada a falar, Luísa Dias Diogo, ex-Primeira Ministra de Moçambique e hoje no painel de sustentabilidade global das Nações Unidas, disse que, nos paises africanos, a fome ainda é um desafio. Explicou que as mulheres produzem 80% dos alimentos e os pequenos produtores, 70%. “Eles têm pouco, mas trabalham muito e são responsáveis por uma grande contribuição na alimentação mundial”.

 

Familiar com essa realidade, a chilena Hortensia Hidalgo, representante de uma rede de mulheres indígenas sobre biodiversidade (RMIB), acrescentou ao debate a temática indígena. Ela atacou o modelo mercantilista que coloca em risco a sabedoria milenar e a relação de respeito e harmonia com o planeta. Alimentos antes sagrados e respeitados são agora apenas produtos.

 

Martin Khor, diretor-executivo do South Centre, da Malásia, considera esse um sistema mundial injusto. Ele criticou a especulação no mercado de commodities que tem levado paises pobres a não conseguirem produzir seu próprio alimento, muito menos exportar. Para Khor, a solução seria eliminar os subsídios agrícolas nos países ricos e revisar acordos de livre comércio.

 

“A crise alimentar é uma crise sistêmica”, apontou Renato S. Maluf, coordenador do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (UFRRJ). Ele ressaltou que hoje, em conjunto com a crise alimentar, é preciso lidar com ela junto com as crises econômica, energética e ambiental e foi bastante aplaudido.

 

Para Vandana Shiva, física, filósofa e ativista ambiental, muitos pequenos agricultores estão famintos, um paradoxo, porque se endividam para comprar fertilizantes. Ela lamentou tantos suicídios em seu país diante da perda da patente de suas sementes e da impossibilidade de sustentar suas famílias.

 

A afirmação evidencia a necessidade de oferecer melhores condições para os jovens agricultores, evitando também migrações para cidades.

 

Mary Robinson, diretora do International Institute for the Environment and Development (IIED), mandou um recado aos jovens agricultores. “Façam suas vozes serem ouvidas de uma forma oposta ao que estamos acostumados”. O presidente do Slow Food, Carlo Petrini, presente à mesa, disse que os agricultores são intelectuais, detentores de saberes complexos. “É preciso valorizar seu trabalho, incentivar seu acesso a tecnologia e apoiar a venda de seus produtos”.

 

No fim do encontro, foram apresentadas as três recomendações mais votadas pelo público e debatedores entre uma seleção inicial de dez sugestões, selecionadas previamente em uma eleição online com a participação de 63 mil pessoas.

 

Os palestrantes chegaram a um acordo sobre enviar uma proposta para eliminar a desnutrição relacionada à miséria e à pobreza, atribuindo mais poder às mulheres, aos povos indígenas e aos pequenos e jovens fazendeiros. Para os debatedores, é necessário assegurar o acesso à terra, água e sementes, assim como garantir o envolvimento desses grupos nas decisões de políticas públicas que se referem à produção e à segurança nutricional e alimentar.

 

A escolha do público pela internet foi a promoção de sistemas alimentares que sejam sustentáveis e contribuam para melhoria da saúde; já os presentes no auditório votaram por desenvolver políticas, voltadas para o produtor e o consumidor, para encorajar a produção sustentável de alimentos.

 

As três ideias serão levadas para apreciação dos Chefes de Estado e de Governo durante o Segmento de Alto Nível da Rio+20, que acontece entre os dias 20 e 22.

 

Sobre os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável

 

Os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável iniciaram-se no sábado, 16 de junho, e se estendem até o dia 19 na plenária do Pavilhão 5 do Riocentro. Serão dez rodadas de discussão, com dez participantes em cada uma, que abordarão temas prioritários da agenda internacional de sustentabilidade. A cada rodada, três propostas serão escolhidas, uma pelos palestrantes, uma pelos participantes da sessão e uma pelos internautas. As trinta sugestões mais votadas serão levadas diretamente aos Chefes de Estado e de Governo presentes na Conferência.

 

São dez os temas dos Diálogos: (i) Desemprego, trabalho decente e migrações; (ii) Desenvolvimento Sustentável como resposta às crises econômicas e financeiras; (iii) Desenvolvimento Sustentável para o combate à pobreza; (iv) Economia do Desenvolvimento Sustentável, incluindo padrões sustentáveis de produção e consumo; (v) Florestas; (vi) Segurança alimentar e nutricional; (vii) Energia sustentável para todos; (viii) Água; (ix) Cidades sustentáveis e inovação; e (x) Oceanos. Todos os debates serão transmitidos ao vivo no website das Nações Unidas: http://www.uncsd2012.org.

 

 

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