Uma exposição indígena relativamente pequena, com cerca de 50 peças em uma área de 120 metros quadrados, demorou sete anos para ser concebida.

É que, desde o início, os organizadores queriam que a montagem da mostra e a escolha das ideias tivesse participação direta dos povos indígenas da etnia kaiapó, especialmente dos que vivem na aldeia Moikaraku, no sul do Pará.

A exigência para a montagem da exposição, inaugurada nesta sexta-feira (16) no Museu Emílio Goeldi, em Belém, tem a ver com a origem da ideia. A antropóloga Pascale de Robert, pesquisadora do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, da França, já trabalhava na aldeia Moikaraku há cerca de dez anos, quando os indígenas lhe disseram que encontravam informações erradas sobre sua etnia em jornais, livros e na televisão. “Eles achavam que podiam traduzir sua própria cultura para a sociedade não indígena, e começamos um longo diálogo, que resultou na exposição”, diz ela.

Até mesmo o nome da mostra, Mebêngôkre-Kaiapó, faz referência à palavra original usada pela etnia. O termo kaiapó foi usado pela primeira vez no início do século 19, por grupos vizinhos a eles. Mas os kaiapó chamam a si próprios de mebêngôkre, ou “homens do buraco”, “gente do espaço entre águas”.

“Eles queriam mostrar a versão deles de sua história. Encontravam mapas vendidos em bancas de jornal, por exemplo, que mostravam terras indígenas vazias, como se eles não vivessem ali. E fizeram um mapa para a exposição mostrando centenas de nomes de lugares com importância histórica para eles”, explica Pascale. Mais tarde, além da aldeia Moikaraku, outras duas aldeias kaiapó do sul do Pará integraram o projeto.

Na opinião da antropóloga, a tendência é que os povos indígenas se apropriem dos museus cada vez mais. Tanto que uma outra exposição dos kaiapó será inaugurada em Paris, na França, em junho deste ano. A iniciativa é fruto da aproximação dos dois países durante o Ano da França no Brasil, que também possibilitou a tradução da mostra de Belém do português e do mebêngôkre para o francês, criando uma exposição trilíngue na Amazônia.

A exposição terá peças usadas no dia-a-dia dos kaiapó, quase todas escolhidas por eles. A expectativa é mostrar os aspectos mais importantes de sua cultura, baseada na cosmologia, na agricultura, caça, pesca e coleta. Por meio de máscaras e cocares, alguns rituais também terão destaque na mostra.

Inaugurada para a Semana dos Povos Indígenas 2010, a exposição tem entrada gratuita e fica aberta ao público de segunda a sexta-feira das 9h às 17h e, aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 15h. A mostra segue até agosto no Museu Emílio Goeldi, em Belém.

Globo Amazônia