SWU teve boa música, mas atitude do público foi contrária à bandeira da sustentabilidade
Cancelamento em cima da hora e pugilato entre técnicos de palco não ofuscaram qualidade da programação do evento
THALES DE MENEZES
ENVIADO ESPECIAL A PAULÍNIA (SP)
Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
Vista geral da arena de shows do festival SWU, durante apresentação do Megadeth, na segunda, último dia do evento |
Chuva e lama fazem parte da tradição dos festivais de rock desde Woodstock.
Ao cair incessantemente na anteontem em Paulínia (a 117 km de São Paulo), no último dia do SWU, a chuva deixou o evento semelhante a outros, algo que não quer ser.
Concebido e vendido como uma reunião para discussões sobre sustentabilidade, o SWU ainda não é assim.
Sim, existe um fórum de sustentabilidade, um programa de reciclagem de 100% do lixo e atividades de integração com a natureza em busca de uma consciência verde.
Falta, no entanto, combinar isso com o público. A massa que foi a Paulínia, em grande parte, teve duas preocupações: beber cerveja e assistir aos shows. No último dia, também buscou pisar na trilha com menos lama.
Dizer isso é uma generalização grosseira, mas representa de forma contundente e real que a atitude dos frequentadores está longe daquela proposta pelo festival.
Difícil pensar em mudar o mundo se o sujeito ao lado de uma lixeira joga seu copo vazio no chão. Mais ainda se ele urina numa das placas que cercam áreas de banheiro.
A distância que deixou de ser percorrida é simbolicamente muito maior do que os cinco metros que o separavam de um vaso sanitário.
As pessoas pulavam lixo no chão e mudavam de lugar por conta do cheiro de urina.
A eficácia do fórum de sustentabilidade é discutível. É um evento para poucos, apenas 2.000 lugares num festival para 70 mil espectadores.
Mesmo com estrelas pop como Neil Young, o fórum não lota. É tão desgarrado do SWU que poderia até ser em outra cidade.
O cardápio oferecido, além das atrações musicais, não emplacou. O cinema a céu aberto ficou às moscas e a atividade mais concorrida no camping foi se jogar na lama.
Em cima dos palcos, no entanto, a coisa andou bem. Duas exceções: o Modest Mouse não tocou, por decisão da própria banda, e o adiamento do show do Ultraje a Rigor no domingo, por conta da chuva, resultou em pugilato entre técnicos brasileiro e os de Peter Gabriel, que queriam reduzir o tempo do Ultraje no palco para não atrasar a entrada do britânico.
O rock esteve presente no SWU, celebrado com muita cerveja por corpos suados e enlameados.
A nova consciência é que ainda não chegou.
fonte: folha de sp