Estudo publicado na última edição da revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA revela que uma extensa área de campos agrícolas explorados por povos pré-colombianos e posteriormente abandonados ganharam “vida própria” e formaram ecossistemas característicos graças a formigas, minhocas e plantas que ocuparam o terreno preparado pelos índios.

Tratam-se de campos elevados espalhados pela região costeira amazônica, desde o Rio Berbice, na Guiana, até quase a capital da Guiana Francesa, Caiena. Os campos elevados são uma técnica criada pelos indígenas pré-colombianos para cultivar áreas alagadiças. Tratam-se de montes de terra de diferentes formas e tamanhos circundados por canais que permitem drenar e, ao mesmo tempo, adubar as plantações. Esta técnica tornou-se mais conhecida por meio dos indígenas mesoamericanos, como os astecas, por exemplo.

Na região analisada pelos autores do artigo da Proceedings, no entanto, ela permitiu que uma vasta área hoje considerada imprópria para a agricultura fosse usada para a produção de alimentos em milhares de campos elevados. Nesta área de savana sazonalmente alagada, os agricultores pré-colombianos produziam milho, abóbora e mandioca, entre outros vegetais.

“Depois, quando estes campos foram abandonados, o mosaico de bem drenadas ilhas na matriz alagada começou a se mover sozinho, auto-organizando processos conduzidos por engenheiros de ecossistemas (formigas, térmitas, minhocas e plantas lenhosas)”, descreve o artigo, que prossegue afirmando que esta auto-organização da natureza fez com que a concentração de recursos iniciada pelo trabalho humano se mantivesse até hoje. A atividade destas plantas e animais sobre os campos elevados é maior que no terreno com características naturais.

A pesquisa destaca que o estudo dos campos elevados é importante para entender como funciona a biodiversidade amazônica, assim como para que a técnica agrícola desenvolvida pelos antigos habitantes da região possa ser aproveitada para a criação de formas de produção de alimento que aproveitem os serviços proporcionados pelos ecossistemas, sendo assim mais sustentáveis.

Globo Amazônia