O empresário, filantropo e multimilionário Bill Gates começou mais uma palestra no TED surpreendendo a platéia com o tema do debate. Ao contrário do que muitos pensavam, ele não falaria de vacinas, sementes ou outras invenções capazes de salvar vidas em países pobres, mas sim de energia e clima. “Mas energia e clima são extremamente importantes para essas pessoas, de fato, mais importantes do que para qualquer outra pessoa no planeta”, afirmou.
O clima cada vez pior significa plantações improdutivas, falta ou excesso de chuvas e desgaste de sistemas já fragilizados. “E isso leva à fome. Leva à incerteza. Leva ao desassossego. As mudanças climáticas serão terríveis para eles”, diz.
A questão central, segundo Gates, é o elevado índice de CO2 emitido pelas ações humanas. “O CO2 está aquecendo o planeta, e a equação do CO2 é na verdade muito simples. Se você soma o CO2 emitido, isso leva a um aumento da temperatura, e esse aumento de temperatura leva a efeitos muito negativos. Efeitos no clima e, talvez pior, efeitos indiretos, os quais os ecossistemas naturais não conseguem se ajustar a essas rápidas mudanças e assim, acontece um colapso no ecossistema”.
Apesar das incertezas sobre o número exato do aumento dessas emissões e quais serão os impactos disso na Terra, o que se sabe é que os efeitos serão ruins. “Eu perguntei aos melhores cientistas sobre isso, várias vezes, nós realmente temos que chegar a quase zero? Não podemos apenas cortar na metade ou em um quarto? E a resposta é que, até que cheguemos perto de zero, a temperatura continuará a subir. E isso é um grande desafio”, afirmou.
Gates lembrou ainda que todos os anos são emitidos mais de 26 bilhões de toneladas e dióxido de carbono na atmosfera e que esse número continua subindo. “Dá uma média de cinco toneladas por cada pessoa no planeta. E, de alguma forma, nós temos que fazer mudanças que irão trazer a emissão a zero”, alertou.
Fatores responsáveis
Segundo o empresário, quatro fatores são essenciais para explicar como funciona o problema. O aumento da população mundial, a disponibilidade de serviços, a eficiência energética e a quantidade de CO2 emitido por cada unidade de energia são pontos essenciais a serem analisados.
“Vamos pegar esse quarto fator, esse é um fator chave. Então a questão é: podemos baixar isso para zero? Se queimarmos carvão, a resposta é não. Se queimarmos gás, não. Quase todas as maneiras que produzimos energia hoje, exceto pela reciclável e nuclear, emite CO2. Então, o que teremos que fazer, em uma escala global, é criar um sistema novo. Nós precisamos de milagres da energia”.
Para Gates, o mundo precisa de soluções que tenham um enorme alcance e confiabilidade. “E embora haja muitas pessoas procurando por direções, eu realmente vejo apenas cinco que podem atingir os grandes números”.
O primeiro é a queima de combustíveis fósseis, como o carvão e o gás natural. Capturar, pressurizar, transformar em líquido e armazenar o CO2 emitido pelas chaminés é uma alternativa possível, mas não fácil. Atingir um nível de eficiência satisfatório e resolver o problema do armazenamento tornam essa alternativa ainda mais distante.
A próxima seria energia nuclear, que segundo Gates tem problemas com o alto custo, com os quesitos de segurança e com o armazenamento dos resíduos. Por fim, ele agrupa a fontes renováveis e sugere que problemas como a baixa densidade de energia acumulada em comparação a outras fontes, as dificuldades em transmitir e armazenar essa energia, o fato de serem fontes intermitentes e de carecerem de altos custos para implantação e monitoramento tornam os benefícios menores que as desvantagens.
“Agora, como iremos em frente com isso: qual a abordagem certa? É um projeto Manhattan? O que pode nos levar a esse objetivo? Bem, temos muitas empresas trabalhando nisso, centenas delas. Existem algumas inovações na tecnologia nuclear: modular, líquida. Então, a ideia de que existem algumas boas ideias por aí não é tão surpreendente”.
Uma delas é a Terrapower, que pretende queimar 99% do urânio, em vez do atual 1%. “É uma ideia meio maluca. Na verdade, as pessoas falaram disso por muito tempo, mas elas nunca puderam simular adequadamente se iria funcionar ou não, e então, com o advento de supercomputadores modernos que agora é possível simular e ver que, sim, com a abordagem de materiais certos, parece que isso pode funcionar”.
A ideia é usar toda a sobra dos reatores de hoje, o chamado “urânio empobrecido”, como combustível. “Em termos de combustível, isso realmente resolve o problema. Isso poderia fornecer energia aos EUA, por centenas de anos. E simplesmente filtrando a água do mar em um processo barato, nós teríamos combustível suficiente para o resto da vida do planeta inteiro”, diz.
Desafio
“Nós temos muitos desafios pela frente, mas isso é um exemplo das muitas centenas e centenas de ideias que precisamos levar adiante. Então vamos pensar como deveríamos avaliar a nós mesmos? Como o nosso boletim deveria parecer?”
Para o filantropo, para tingir a meta de redução de 80% das emissões de CO2 até 2050 é necessário, entre outras medidas, que os países desenvolvidos, incluindo países como a China, troquem toda a sua geração de energia, de uma só vez, para fontes de emissão zero.
Também será necessário expandir essas tecnologias para países em desenvolvimento ao mesmo tempo em que melhoramos a eficiência e criamos novas tecnologias. “É preciso mover esses avanços à velocidade máxima, e nós podemos medir isso em termos de companhias, projetos piloto, coisas regulatórias que foram mudadas”, afirmou.
Desejo
Bill Gates conclui sua palestra fazendo um pedido ao público. “Se você me der apenas um desejo para os próximos 50 anos eu escolheria que a metade do custo sem o uso de CO2 seja inventada. Este é aquele de maior impacto. Se nós não tivermos esse desejo, a divisão entre as pessoas que pensam em longo e curto prazo vai ser terrível, entre os EUA e China, entre países ricos e pobres, e acima de tudo, a vida daqueles dois bilhões de pessoas será muito pior”.
Gates vai além: “Nós precisamos buscar mais investimento em pesquisas. Quando países se juntam em lugares como Copenhagen, eles não deveriam discutir apenas CO2. Eles deveriam discutir uma agenda de inovações. Precisamos de incentivos de mercado, o imposto sobre CO2, cap and trade, algo que tenha esse sinal de preço. Nós precisamos espalhar a mensagem. Nós precisamos fazer esse diálogo ser mais racional, um diálogo mais compreensível, incluindo os passos que o governo dá. Este é um desejo importante, mas é um desejo que eu acho que podemos alcançar”.
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