O combate e a adaptação às mudanças climáticas se tornaram parte obrigatória de qualquer plano de desenvolvimento. E custarão, no Terceiro Mundo, US$ 475 bilhões por ano nos próximos 20 anos, segundo um relatório do Banco Mundial divulgado ontem.

É a primeira vez que o tema do aquecimento global aparece como assunto principal do “World Development Report”, uma espécie de guia anual publicado pelo Bird desde 1978. O relatório vem num momento estratégico, a três meses da conferência da ONU em Copenhague, que forjará o novo acordo de proteção ao clima, e a oito dias do encontro do G20 que debaterá o assunto.

Segundo o documento, os efeitos da mudança climática -mais tempestades, secas e ondas de calor-, que já acontecem e tendem a se agravar, tornam mais difícil a tarefa de aliviar a pobreza, pois “drenam recursos do desenvolvimento” e aumentam o preço da comida.

“Países em desenvolvimento são afetados desproporcionalmente pela mudança climática -uma crise que eles não produziram e para a qual não estão preparados”, disse o presidente do banco, Robert Zoellick.

É nesses países, como o Brasil, que está o potencial de corte de emissões com menor custo. Mas esse corte terá de ser financiado pelos países ricos, diz o banco. E aqui há uma lacuna: hoje, ações de adaptação e de mitigação (redução de emissões) no Terceiro Mundo têm US$ 10 bilhões por ano. Mas o relatório estima que serão necessários US$ 400 bilhões por ano para a mitigação e US$ 75 bilhões para a adaptação.

Para comparação, a crise econômica mundial já tragou US$ 3 trilhões em um ano. O relatório aponta problemas nos atuais mecanismos de financiamento de ações antiaquecimento. Um exemplo é o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), criado pelo Protocolo de Kyoto, de 1997. Através dele, ações de redução em países pobres poderiam valer créditos de carbono, a serem abatidos das metas de corte de emissões dos países ricos.

Mas o MDL, avalia o banco, rendeu poucos recursos (serão no máximo US$ 18 bilhões em 11 anos) e fracassou em seu objetivo: “Ele não levou os países em desenvolvimento para trajetórias de baixo carbono”.

O relatório propõe novos mecanismos de financiamento, como impostos “fiscalmente neutros” sobre as emissões de carbono -ou seja, que fossem restituídos com redução de outros impostos- até uma taxa sobre o transporte internacional, ecoando uma proposta feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva dois anos atrás.

Álcool brasileiro
Outra lacuna apontada é a do desenvolvimento de tecnologias de energia limpa. Elas são vistas como a principal arma para impedir que o aquecimento global fique muito acima de 2C até 2100.

“Os subsídios globais ao petróleo e derivados são de US$ 150 bilhões por ano, mas o gasto público em desenvolvimento e emprego de tecnologias de energia é de cerca de US$ 10 bilhões há décadas”, diz o banco.

Aqui, mais uma vez, a responsabilidade é dos países ricos, não só de investir em tecnologia e na sua transferência às nações pobres, mas também de derrubar tarifas a essas tecnologias quando desenvolvidas a baixo custo no Terceiro Mundo. O álcool brasileiro é citado.

“Os subsídios dos países da OCDE [desenvolvidos] a seus biocombustíveis foram de US$ 11 bilhões em 2006. Como resultado, não se fazem investimentos nos países onde a tecnologia tem uma melhor relação custo/benefício. O Brasil, o produtor de etanol a custo mais baixo, viu um crescimento modesto de 6% na sua produção de etanol entre 2004 e 2005, enquanto os EUA e a Alemanha tiveram crescimentos de 20% e 50% (…)”, conclui o Bird, pedindo menos tarifas.

Claudio Angelo
Editor de Ciência