O país ocupa posição central numa América Latina que hoje é sinônimo de pujança econômica, com poucas exceções
Beatriz Ferrari, do Rio de Janeiro
A América Latina, com um peso político e econômico crescente no cenário global, será o foco das discussões desta edição do Fórum Econômico Mundial, que reúne nestas quinta e sexta-feira mais de 700 representantes de governos, empresas, organizações, academia e da sociedade civil no Rio de Janeiro. A região tem perfilado indicadores econômicos invejáveis, com poucas exceções. De um lado, os países adeptos do socialismo do século XXI ostentam números muito aquém da média regional. Em 2010, a Bolívia cresceu 3,8% e sua grande apoiadora, a Venezuela, conquistou a façanha de ver seu PIB encolher 2,8%, segundo dados da agência de inteligência americana, a CIA. De outro lado estão aquelas nações que fizeram opção pelo pragmatismo econômico e pela democracia, como o Peru (8,7%), Uruguai (8,5%), e Brasil (7,5%).
A economia brasileira, por seu tamanho e complexidade, ocupará no Fórum posição de destaque nas discussões. Afinal, o PIB nacional equivale a cinco vezes o da Argentina e duas vezes o do México – que são as outras duas grandes economias regionais –, além de estar próximo do PIB italiano e francês. Adicionalmente, o país viu sua influência política no mundo aumentar, em decorrência de décadas de esforços dos governos anteriores e de um importante ‘empurrãozinho’ conferido pela entrada nos BRICS – bloco que congrega os grandes emergentes do cenário internacional: Brasil, Rússia, Índia, China e, mais recente, África do Sul. Interessará aos participantes do bloco saber como o governo Dilma e os próximos farão para consolidar essa natural liderança e como será sua interação com toda a América Latina no futuro.
De forma geral, Brasil e os demais integrantes da região colhem os frutos de melhorias realizadas nos últimos anos na condução da economia por parte de seus governos. Por outro lado, também é verdade que a região hoje também deve boa parte de seu desenvolvimento à pujança asiática. Nos últimos anos, de forma geral, todos os latino-americanos aprofundaram suas relações com a região, sobretudo com a China.
Tal ‘casamento’ tem suas vantagens, mas também seus desafios. Os economistas querem saber se a relação de cooperação com a China pode virar dependência e como melhorar os chamados ‘termos de troca’ – isto é, o fato de a região ter sua pauta comercial com o país asiático muito concentrada em commodities agrícolas, minerais e energéticas, ao passo que é compradora de tecnologia e bens industrializados chineses. Preocupa ainda – e a reclamação é mundial – a manutenção da moeda chinesa (o yuan) em um patamar muito desvalorizado. Enquanto isso, as economias saudáveis latino-americanas vêm suas moedas sofrerem acentuada apreciação, graças ao recebimento de fluxos de capital e ao processo de desvalorização da moeda americana.
Com o tema “Criando a Plataforma para uma Década Latino-Americana”, o Fórum também pretende avançar em questões-chave como governança, inovação e desenvolvimento sustentável. Entre as mesas-redondas, serão realizadas discussões sobre desafios educacionais, energia, criação de empregos e infraestrutura.
A presidente Dilma Rousseff fará o discurso de abertura. Estarão presentes os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente). Henrique Meirelles, presidente da Autoridade Pública Olímpica, e Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional para o Desenvolvimento (BNDES), também participam dos debates.
O evento contará com empresários da envergadura de Frederico Fleury Curado, presidente da Embraer e co-presidente do fórum; Pedro Parente, presidente da Bunge; e Luiz Fernando Furlan, da BR Foods.