Para não perder o que sobrou das suas plantações de cebolinha, repolho e couve, o agricultor Luís Almeida fez um canteiro suspenso. As cheias atingiram suas terras e, assim como ele, 1,4 mil agricultores de Careiro da Várzea, a 32 km de Manaus, tiveram grandes prejuízos. A produção de hortaliças caiu 90%. Só de repolho foram perdidas 800 toneladas.
Do outro lado do Rio Solimões, seu Nonato também construiu canteiros mais altos para a plantação, mas já perdeu três mil pés de alface. A fazenda dele se transformou em um lago. Para andar nas terras é preciso entrar na água, e a profundidade é chega a um metro e meio. Para ir ao criadouro de peixes, só de canoa.
Na época de vazante o açude da piscicultura chega a quase dois metros de profundidade. Com a cheia, alcança três metros. O medo de seu Nonato é que com a subida rápida do rio os 480 tambaquis, criados no lugar, possam fugir.

Para aumentar a segurança, a cerca do tanque foi reforçado com uma tela. O seu Raimundo também está assustado. O rio invade as terras dele por todos os lados. Até uma canoa virou canteiro. Plantações de coco, cebolinha, couve e pepino foram perdidos. Apenas o milho teve tempo para ser colhido. Segundo o engenheiro agrônomo André Gavinho, a plantação de milho é incentivada para evitar grandes estragos na época de enchente.

Ainda assim, o prejuízo foi sem tamanho para o seu Raimundo. “Dá para tirar o milho. As outras coisas nós perdemos”, falou. No quintal dele, um piso elevado está sendo construído para os bois. O município tem um dos maiores rebanhos bovinos do Amazonas, com mais de 68 mil cabeças. Os animais estão ficando ilhados.

“Os animais já foram transferidos para as áreas de terra firme, ocasionando um prejuízo diário significante para os pequenos pecuaristas do município”, disse Ofir Leite, gerente do Instituto de Defesa Agropecuária do Amazonas. A mudança do gado para áreas altas reduziu em quase 90% a produção de leite.

Fonte: Do Globo Amazônia, com informações do Globo Rural