Vice da Colômbia alerta para a mobilidade das plantações. Combate ao plantio é como ‘quimioterapia’, diz ao Globo Amazônia.

Vice-presidente da Colômbia desde 2002, Francisco Santos Calderón encabeça a campanha Responsabilidade Dividida, que visa chamar a atenção da comunidade internacional para as conseqüências ambientais e sociais da produção e do tráfico de cocaína em seu país.

Jornalista, chegou a ser sequestrado em 1990 pelo cartel de Medellín, do traficante Pablo Escobar, quando era chefe de redação do diário “El Tiempo”.

Em entrevista exclusiva ao Globo Amazônia, ele fala dos danos causados pela droga à floresta tropical colombiana.

Globo Amazônia: O plantio de coca é a principal ameaça à Amazônia colombiana?

Santos: À Amazônia colombiana, sim. Sem dúvida.

Globo Amazônia: Que danos estas plantações causam ao ambiente?

Não só na Amazônia, mas também na selva da costa do Pacífico, que são as duas zonas com mais biodiversidade da Colômbia e estão sendo abertas para o plantio de coca. A Colômbia perdeu mais de 2 milhões de hectares (20.000 km²) de selva nos últimos 15 anos. É o tamanho da Croácia.

Saiba mais: Plantações de coca causam dano na Amazônia colombiana .

Santos: Todos os anos perdemos entre 200 mil e 300 mil hectares de floresta para cultivar a coca consumida sobretudo nos países desenvolvidos. Estamos dizendo a eles: vocês que falam tanto de mudança climática e desmatamento, os seus hábitos de consumo de coca contribuem ao desflorestamento e à destruição massiva de biomassa e biodiversidade.

Globo Amazônia: Mas as plantações de coca não aproveitam áreas já desmatadas para outros fins, como a exploração madeireira?

Santos: Não. A destruição é para o plantio de coca. E cada vez em regiões mais frágeis e distantes.

Globo Amazônia: As fumigações que o seu governo promove para destruir as plantações não afetam também a floresta?

Santos: (Com o plantio de coca) não é só a destruição pelo desmatamento, mas também o uso dos piores herbicidas e pesticidas, sem falar nas toneladas e toneladas de produtos químicos que se utilizam para processar a folha e transformá-la em cocaína. Obviamente gostaria de não ter que fumigar, mas o dano à selva já está feito. É como um tratamento de radioterapia para o câncer.

Globo Amazônia: Que organizações promovem a economia da coca na Amazônia colombiana?

Santos: O que temos ali é um arranjo permanente para o crime. Lá estão as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que são um dos grupos mais importantes, mas há também quadrilhas e cartéis tradicionais de drogas. Todas as organizações criminosas têm algo por lá.

Globo Amazônia: Brasil e Colômbia têm alguma forma de cooperação para coibir o narcotráfico do território colombiano para o brasileiro pelos rios amazônicos?

Santos: Cada vez há mais cooperação. Mas você sabe que uma das características do negócio da cocaína é essa mobilidade de ir aonde for mais propício. E, no momento, o lugar mais propício é a selva colombiana, ainda que isso esteja mudando. Sua mobilidade é tão grande que poderiam ir para o Amazonas brasileiro.

Globo Amazônia: O senhor tem informação sobre a entrada de garimpeiros brasileiros em território amazônico colombiano? Eles estão causando danos ambientais, como acontece no Brasil?

Santos: Sim, mas não tenho dados exatos e não quero especular. Sabemos que há um problema grave de garimpeiros, mas não tenho as dimensões exatas.

Dennis Barbosa Do Globo Amazônia, em São Paulo