Índice zero de traição será usado por aliado como barganha por cargos federais

Projeto prevê regra fixa para reajuste até 2015; oposição atacou texto que dá a Dilma poder de aumento por decreto

Sergio Lima/Folhapress

Boneco de Dilma inspirado em obra de Romero Brito em ato por
aumento do mínimo no DF

MARIA CLARA CABRAL
RANIER BRAGON
VALDO CRUZ

DE BRASÍLIA

Após forte pressão do Planalto sobre ministros e partidos que disputam cargos do
segundo escalão, a presidente Dilma obteve ontem sua
primeira vitória legislativa ao
aprovar na Câmara o salário
mínimo de R$ 545 para 2011 e
derrubar propostas de valores mais altos.
Apesar da união inusitada
da oposição com as centrais
sindicais, a dissidência da
base governista foi mínima.
Com apoio de 100% dos
deputados do PMDB, o rolo
compressor do governo derrubou facilmente as emendas para elevar o valor a R$
600 (promessa de campanha
do PSDB) e R$ 560 (proposta
pelo DEM).
Elas foram derrubadas por
larga margem: 376 votos a
106, no primeiro caso; e 361 a
120, no segundo.
“Vai ser um trator, o trator
da dona Dilma”, já dizia o líder do DEM, Antonio Carlos
Magalhães Neto (BA), minutos antes das votações.
Para virar lei, o mínimo de
R$ 545 precisa ser aprovado
ainda no Senado, que deve
votá-lo na próxima quarta-feira. A expectativa é de uma
nova vitória folgada.
Com a necessidade de cortar gastos para conter a inflação, o governo jogou pesado
para evitar a aprovação de
um valor maior do que os R$
545. Nos últimos dias, ameaçou tratar como opositores
eventuais dissidentes. A estratégia funcionou.
O mapa das votações mostrou que os 77 deputados do
PMDB presentes votaram
com o governo. O mesmo
aconteceu com o PSB.
Por sua vez, aliados, principalmente peemedebistas,
já falavam ontem em usar o
apoio maciço como barganha na partilha de cargos do
segundo escalão.
No PT, houve duas traições. Na oposição, também
foram registradas quatro dissidências pró-governo, sendo duas do PSDB.

REGRA ATÉ 2015
A lei aprovada prevê regras fixas para o cálculo do
mínimo até 2015 -correção
pela inflação, mais o índice
de crescimento da economia
de dois anos antes
O PPS tentou derrubar um
trecho do texto segundo o
qual os reajustes devem ser
feitos por decreto presidencial, sem passar pelo Congresso Nacional.
Esse ponto foi duramente
criticado pela oposição. A
emenda, porém, foi derrubada, também por maioria.
De acordo com o governo,
47,7 milhões de trabalhadores têm os salários calculados com base nas regras do
mínimo, entre trabalhadores
formais e informais (29,1 milhões) e beneficiários da Previdência (18,6 milhões).
Durante a votação, representantes das centrais vaiaram petistas, tradicionais
aliados, entre eles o ex-presidente da CUT Vicentinho
(PT-SP). Relator do projeto,
ele foi chamado de “traidor”.
O deputado Paulo Pereira
da Silva (PDT-SP), presidente
da Força Sindical, disse que a
disputa continua no Senado.
“A avaliação de Dilma vai
cair drasticamente”, disse.
Deputado mais votado no
país, Tiririca (PR-SP) votou a
favor do salário de R$ 600,
minutos depois de dizer que
votaria pró-governo. “Ih, então eu votei não [aos R$ 600]
e saiu sim”, disse.

fonte: Folha de SP