Desaceleração da economia mundial já começa a afetar o Brasil; especialista em agronegócio diz que Goiás tem de investir na inovação.
A crise na zona do euro, reflexo da grande crise de 2008 nos Estados Unidos, está afetando a economia mundial. Os países em desenvolvimento, como o Brasil, também sofrem o impacto, embora em menor medida. A China, grande comprador de alimentos e outros commodities, está reduzindo suas importações, o que pega principalmente o Brasil, que tem nela seu maior cliente.
Goiás, grande produtor de commodities, como não poderia deixar de ser, deve ser fortemente afetado pela crise, principalmente pela desaceleração da China na importação de matérias-primas e alimentos. E o que poderia ser feito para amenizar esse impacto em termos regional? O economista Adriano Paranaíba, mestre em Agronegócio e professor da Faculdade Araguaia, diz que, em função do pacto federativo, Goiás não tem muito o que fazer em relação à crise: “Tem de ficar assistindo à catástrofe”, diz ele.
Mas a blague do economista é suavizada por uma análise que relativiza o impacto da crise na economia goiana. Segundo Adriano Paranaíba, a crise, sob o aspecto da questão cambial, pode até ser benéfica para Goiás. “A grande vantagem que temos é que com a com a instabilidade econômica, tanto os especuladores quanto os investidores estão buscando o dólar como porto seguro, o que naturalmente valoriza a moeda americana. Com isso as nossas exportações são extremamente beneficiadas. Como Goiás é forte exportador de commodities, essa crise acaba sendo benéfica.”
Como toda questão tem o outro lado, Paranaíba aponta a desvantagem: as importações. “Nós também temos importações expressivas, principalmente na questão de maquinários. Aliás, o grande problema da indústria brasileira de bens de capital hoje é importar maquinário, a grande queixa desse setor.”
O economista especializado em agronegócio aborda especificamente a questão chinesa, lembrando o que já é fato consumado, a desaceleração da economia China. “Esse é o segundo momento da crise, perceber a China desacelerando. Aí preocupa sim, porque a China é o grande comprador mundial de commodities, o que faz os preços estarem bem cotados. Com a China desacelerando, o preço das commodities tende a cair, e isso pode prejudicar Goiás, evidentemente.”
Com tudo isso, diz o economista, até o momento Goiás não está sentindo impacto da crise europeia. “Nossas exportações em volume vêm aumentando, o governo estadual está fazendo propaganda sobre os sucessivos recordes de exportações. Vamos ver até quando mantemos esse ritmo.”
Adriano Paranaíba diz acreditar que, por mais que a China desacelere, Goiás vai continuar bem, porque a comercialização de commodities é uma dinâmica mundial. “Nós já fizemos um movimento na nossa balança comercial. O Brasil exportava muito para Roterdã e deslocou uma boa parte para a China. Com a China desacelerando, podemos voltar o fluxo para Roterdã, que é um porto para distribuição mundial no mercado.”
Perdendo oportunidade
E nesse momento de crise, ou de pré-crise, o economista Adriano Paranaíba chama a atenção para a necessidade de Goiás se ligar mais na questão da inovação. Segundo ele, o Estado está perdendo um momento-chave de buscar inovações. A aposta no modelo de exportações de minérios, carnes e soja já não é tão producente. Nesse contexto, é preciso buscar o potencial de um produto abundante em Goiás, a cana.
Segundo ele, é preciso buscar uma solução para nossas demandas relacionadas principalmente com energias sustentáveis. “Precisamos entender que a cana-de-açúcar não é só álcool. Temos de aproveitar esse momento que o mundo sente essa necessidade de energia e buscar investimentos para tirar mais coisas da cana. Não podemos ficar só embasados no álcool da cana, que é uma bomba de energia e pode-se retirar muito dela, muitos polímeros.”
Adriano Paranaíba diz que Goiás está perdendo a oportunidade de buscar esse desenvolvimento sustentável, de ser um dos precursores nessa área. A receita seria um trabalho conjugado entre os governos federal e estadual, com as universidades, os institutos tecnológicos federais. Ele lembra que a Secretaria de Ciência e Tecnologia (Sectec) tem um trabalho voltado para essa área, até com uma superintendência de inovação, com o professor Jeferson de Castro, muito envolvido nessa questão. “Mas uma andorinha só não faz verão.”
Segundo o economista, a Sectec desenvolve um trabalho interessante, mas o governo deveria ter a inovação como estratégica. “Não deixar a industrialização, mas não ficar apenas nesse mote, faria um mix com foco nos novos mercados que estão surgindo. Por que no governo isso é muito separado, a SIC (Secretaria de Indústria e Comércio) cuida de indústria, a Sectec cuida de inovação.”
Ele lembra que tem gente muito boa nas duas áreas e que se poderia estabelecer uma agenda comum para ter a indústria focada na inovação. O problema, diz, é que o mundo está mostrando que a forma atual da indústria não funciona mais, é preciso reinventar. “Não dá mais para produzir como se produzia na década de 80, quando nossas políticas industriais foram construídas. Temos de renovar, rever algumas coisas do Produzir.”
O professor da Faculdade Araguaia diz que Goiás tem uma diferenciação muito mais logística do que fiscal. “A gente era fronteira, hoje estamos no coração do Brasil, por isso temos vantagem grande em termos de logística, mas também temos de ter produtos diferenciados. Temos de aproveitar esse momento. Nos blogs dos grandes economistas, todos eles perguntam a agora, para onde vamos? Qual vai ser o novo modelo industrial? Em Goiás temos gente boa para pensar isso.”
Indústria e exportações em alta
A produção da indústria goiana no mês de março se destacou mais uma vez, com crescimento de 6,7%, ficando em segundo lugar no ranking nacional do mês, atrás apenas do Paraná, que cresceu 9,8%. O índice é bastante expressivo quando se compara com o quadro nacional, uma vez que a produção industrial brasileira registrou queda em 5 das 14 regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na quinta-feira, 10.
Outros Estados que também obtiveram crescimento foram Amazonas (6,5%), Rio Grande do Sul (2,6%), Rio de Janeiro (2,5%), Ceará (1,9%), Pará (0,9%), Pernambuco (0,4%) e Espírito Santo (0,3%). No lado negativo do ranking aparecem a Bahia (-1,3%), Minas Gerais (-0,7%), Santa Catarina (-0,7%) e São Paulo (-0,3%) que tem o maior parque fabril do país, além da região Nordeste, que recuou 0,5%.
Líder no acumulado
Quando se compara o período de um ano (entre março de 2012 e março de 2011), Goiás é o líder disparado, com a maior alta do País, nada menos que 24,7%. Em seguida vem o Paraná (15,0%). Embora tenha demonstrado evolução em vários setores, a produção de produtos químicos e farmacêuticos foram os principais responsáveis pelo excelente desempenho da indústria goiana. Os Estados do Pará (5,5%), Rio Grande do Sul (1,5%), Ceará (1,3%), Amazonas (0,3%) e Pernambuco (0,1%) completam a lista dos estados com avanço na indústria.
O secretário de Estado de Indústria e Comércio, Alexandre Baldy (PSDB), credita o bom momento da economia goiana principalmente à força da parceria entre o governo de Goiás e o segmento empresarial. “Desde a primeira reunião de trabalho que tivemos com o governador Marconi Perillo, a orientação dele foi a de valorizar muito a parceria com a iniciativa privada para que pudéssemos gerar riquezas, empregos e qualidade de vida para a população goiana. E parece que já estamos colhendo os frutos dessa parceria.”
De acordo com o levantamento do IBGE, Goiás lidera também no acumulado do ano (janeiro a março). No período, a indústria goiana avançou 18,8%, mais que o dobro da Bahia, segunda colocada com 8,0% e Paraná com 7,4%, seguidos do Pernambuco (5,6%), região Nordeste (4,0%) e Rio Grande do Sul (2,1%). O crescimento da indústria goiana no trimestre foi puxado pela maior produção de medicamentos.
O relatório aponta queda na produção de 8 dos 14 locais. Tiveram baixas o Rio de Janeiro (-6,8%), São Paulo (-6,2%), Santa Catarina (-5,9%) e Ceará (-4,3%). Espírito Santo (-2,4%), Amazonas (-2,0%), Minas Gerais (-1,4%) e Pará (-1,2%).
Exportações
Uma mostra de que a crise internacional ainda não impactou a economia goiana se dá nos números das exportações, conforme os últimos dados divulgados pela SIC, no início do mês passado. As exportações goianas obtiveram, em maio, o melhor desempenho mensal de toda a sua história, atingindo a marca de US$ 825,454 milhões, uma evolução de 53% em relação a maio do ano passado, e 28,3% superior a julho de 2008, o mês que detinha o recorde para as vendas dentro de um único mês. As importações chegaram a US$ 529,809 milhões, gerando superávit de US$ 295,809 milhões. Foi um avanço de 252% em relação ao mesmo período do ano passado.
No acumulado do ano (de janeiro a maio), as exportações também acumularam o valor recorde de US$ 2,786 bilhões, com crescimento de 18,5% em relação a 2011. As importações evoluíram 5%. Com isso, o saldo comercial saltou para US$ 625,314 milhões, 211,5% maior que o saldo acumulado nos primeiros cinco meses do ano passado.
Na divulgação dos números, o secretário Alexandre Baldy lembrou que o desempenho excepcional da balança comercial se deu na esteira da política de parceria implementada pelo governador Marconi Perillo com o setor produtivo. “O governo de Goiás e o empresariado goiano trabalham incansavelmente para o desenvolvimento do nosso Estado. Os números da economia comprovam que estamos no caminho certo. Hoje, podemos afirmar com orgulho que Goiás é o estado que mais cresce no país.”
Produtos e mercados
As principais mercadorias goianas exportadas foram a soja (grãos, bagaços e óleo) que representou 50,5% das vendas, as carnes (bovinas, aves, suínas e outras) com 15,9%, açúcar (10,4%), ferroligas (7,2%), sulfeto de cobre (6,4%), couros e derivados (3,3%), algodão, amianto, preparações alimentícias, milho, outros produtos de origem animal, produtos químicos orgânicos, máquinas e equipamentos elétricos e mecânicos, produtos farmacêuticos e veículos. Os destinos desses produtos foram, pela ordem, China, Rússia, Holanda, Finlândia, Espanha, Argélia, Hong Kong, Bangladesh, Taiwan (Formosa) e Nigéria.
Nas importações, os produtos que mais se destacaram foram veículos, automóveis, tratores e suas partes (40,18%); produtos farmacêuticos (28,88%); caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos; adubos ou fertilizantes; produtos químicos orgânicos; instrumentos e aparelhos de óptica e fotografia; máquinas, aparelhos e materiais elétricos e suas partes; plásticos e suas obras; sal, enxofre etc; borracha e suas obras. Os países de origem dessas mercadorias foram: Coreia do Sul, Alemanha, Japão, Estados Unidos, Suíça, Tailândia, China, Belarus, México, Índia.
O secretário reforça que no prato das importações goianas não aparecem produtos supérfluos. “A totalidade das nossas importações é de matérias-primas, essenciais para a manufatura. Se olharmos também para a corrente de comércio (exportações e importações), perceberemos o claro aumento da participação goiana na balança comercial brasileira”, finaliza.
“Ainda não sentimos a crise”, diz Vecci
O impacto da crise econômica internacional, por enquanto, não está sendo sentido em Goiás. A constatação é do economista e secretário de Gestão e Planejamento de Goiás, Giuseppe Vecci. Ele lembra que Goiás se aproveitou do crescimento internacional que demandou mais commodities, justamente o forte da produção goiana. “Nós temos basicamente commodities para exportar, quer seja na agropecuária ou no setor mineral. Não só do ponto de vista quantitativo, mas também em questão de preço.”
Nesse período, lembra Vecci, as commodities tiveram aumento considerável em nível mundial e os minérios quase duplicaram seu preço mais recentemente. Na área da agropecuária, houve crescimento quantitativo e de preço das exportações de carne em nível mundial. Mas o secretário não fecha os olhos para a realidade e afirma que o desaquecimento mundial, tanto dos países asiáticos quanto da Europa, pode trazer grandes transtornos para Goiás, justamente pelo fato de o Estado ter exportação ancorada em commodities.
“Como Goiás tem pouca exportação de produtos industrializados, este momento em que discutimos a desindustrialização brasileira, desse ponto o Estado é pouco afetado. Mas em relação ao setor primário, não há dúvidas de que haverá prejuízo. Não teríamos como passar incólumes a uma crise que atingisse o Brasil, por mais que nossa economia se volte para o mercado interno. Por isso, não podemos esperar em berço esplêndido tudo acontecer lá fora”, diz o secretário.
Giuseppe Vecci, o técnico de maior participação no direcionamento da política econômica goiana nas três últimas décadas (ele foi secretário de Planejamento do governo Henrique Santillo, na segunda metade da década de 1980), lembra que Goiás conseguiu, nos últimos 40 anos, galgar posições positivas em relação a outros Estados. Isso se deu, entre outros fatores, graças ao deslocamento do eixo de desenvolvimento do Centro-Sul e do litoral para o interior do País.
Mas o grande responsável, lembra Vecci, foi a política de prospecção de oportunidades de negócios e de incentivos fiscais, que fizeram Goiás ter um constante crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), acima da média nacional. “Com o Fomentar e depois o Produzir, tivemos alternativas diante da falta de política de desenvolvimento econômico do governo federal”, diz Vecci. Com os dois programas, centenas de indústrias se instalaram em Goiás, dinamizando a economia, gerando empregos e renda aos goianos.
“Ninguém imaginaria que Goiás poderia ter indústrias do ramo metalomecânico e já estamos com quatro empreendimentos nessa área. Temos polo farmacêutico, polo sucroalcooleiro. E isso não foi construído só em nosso governo. Em cima de certo atrevimento, Goiás pôde chegar hoje a uma economia muito mais dinâmica, comparativamente a outros Estados, do que tínhamos há 40 anos. Somos hoje o nono lugar entre as economias nacionais. Se Goiás continuar a crescer em níveis maiores do que o PIB nacional vamos melhorar nossa posição nesse ranking”, afirma Vecci.
A receita para esse sucesso, diz o secretário, está na prospecção de oportunidades de negócios no Brasil e no exterior e criar condições de atrair empresas para cá. Enquanto o crescimento da economia estiver voltado para o mercado interno, Goiás vai se dar muito bem, afirma o titular da Segplan.
Política fiscal
Mas diante do quadro de crise internacional e a queda dos incentivos fiscais, como está sendo desenhada no Congresso, na reforma tributária, Goiás pode ficar em situação ainda mais complicada? Giuseppe Vecci diz que efetivamente Goiás tem sido colocado como referência de quem tem uma política fiscal mais agressiva. E diz que, primeiramente, é preciso trabalhar para que o Estado permaneça com os incentivos fiscais, no mínimo convalidando os contratos já existentes.
“Estamos somando esforços com os outros Estados que estão na mesma situação de Goiás. Também estamos estudando, em um grupo de trabalho que envolve Segplan, Secretaria da Fazenda, Secretaria de Indústria e Comércio e Agência de Fomento, alternativas à possibilidade do fim dos incentivos, para que continuemos atraindo indústrias. E continuamos prospectando bons negócios. A par disso, precisamos também melhorar a nossa infraestrutura e a capacitação de mão de obra, para termos uma solução mais duradoura”, diz o secretário.
Giuseppe Vecci lembra que o Estado não está inerte diante da crise econômica internacional que estourou em 2008, nos Estados Unidos, e tem seu desdobramento mais sério agora, na Europa. Nos últimos anos, os indicadores mostram osso, afirma. “E não são indicadores nossos, não, são do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas]. O PIB de Goiás tem crescido mais do que a economia nacional. A atividade industrial mostra que comparativamente fomos o Estado que mais avançou. Temos mais de 750 projetos que, se todos fossem realizados, dariam mais de R$ 27 bilhões até 2015. Enquanto o Brasil estiver ancorando seu desenvolvimento no comércio interno, Goiás estará em uma posição de destaque. Até pela questão de nossa posição geográfica, cada vez mais empresas se instalam por aqui, pensando também na logística.”
O secretário lembra, ainda, que o setor da mineração, estratégico na pauta de exportações, tem recebido atenção do governo estadual. “Temos investimentos de quase R$ 3 bilhões, principalmente no norte de Goiás — Minaçu, Alto Horizonte, Crixás, Mara Rosa, Pilar e outros municípios. Agora o que temos de fazer é apoiar esses investimentos com mão de obra e infraestrutura. Estamos fazendo levantamentos de geologia para diminuir o risco dos empresários. Já temos tecnologia para mapear até 200 metros solo adentro. Isso certamente reduz os riscos de quem vai explorar as riquezas.” Com isso, mesmo que diminua a demanda por minérios, Goiás poderá garantir posição privilegiada na hora de vender esse tipo de produto.
Por sinal, na semana passada, o governo anunciou um mix de ações para retomar os incentivos à produção mineral em Goiás. A principal medida é a retomada de linhas de crédito para incentivar o extrativismo mineral do Estado, com aporte financeiro inicial de R$ 15 milhões até o final do ano. O governador Marconi Perillo assinou três decretos: um que cria linha de crédito para pesquisa, prospecção e lavra de bens minerais, outro que define o papel do Conselho Estadual do Funmineral e mais um que estabelece os programas Mapa da Mina e Negócio do Minerador, destinados a estudos geológicos e geofísicos do solo goiano, em parceria com a Universidade Federal de Goiás. Também foi criado o Conselho de Gestão Mineral do Estado, jurisdicionado à SIC.
Na prática, segundo o governador, o governo retoma a política de incentivo ao setor extrativista mineral, interrompida na gestão passada. De acordo com ele, a cadeia minerada é uma das mais importantes do Estado, fundamental para a consolidação da economia goiana como uma das mais competitivas do cenário nacional. Goiás é o terceiro polo extrativista mineral do País, com movimentação anual de R$ 4,5 bilhões, em matéria bruta. Levando-se em conta os valores agregados, os ganhos, segundo dados oficiais do Estado, podem ser multiplicados por 11. Na pauta de exportações minerais, Goiás ocupa as seguintes posições, no ranking nacional de Estados produtores: níquel (1º), cobalto (1º), ouro (4º), fosfato (2º), crisotila (1º), vermiculita (1º).
Sobre descontinuação de investimentos federais em Goiás, Giuseppe Vecci diz que não tem como fazer previsão a partir daqui. A área federal geralmente decide cortar investimentos em função de interesses outros, como fazer caixa. “Temos de ver como o próprio governo federal vai reagir em relação a essa crise. Certamente em algum momento vai impactar nos Estados. Mas, até o momento, esse impacto não está sendo sentido.”
Alta no preço da soja é boa notícia para produtores
Com crise ou sem crise, a necessidade de grãos alimentícios continua. Isso é uma boa notícia para o Brasil e especialmente para Goiás, um dos maiores produtores do País. Na semana passada, a imprensa especializada noticiou que houve a disparada das cotações internacionais da leguminosa, após meses de preços elevados, e um câmbio mais favorável redobraram o vigor da soja no Brasil.
No Mato Grosso, o maior Estado produtor, a área semeada deve chegar a 7,4 milhões de hectares na safra 2012/13, a maior já plantada. O Estado deve registrar também recorde na colheita, com 23 milhões de toneladas, conforme projeção do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. Goiás, outro grande produtor, também deve ter aumento de área e crescimento na produção.
O jornal “Valor Econômico” registrou que com a boa perspectiva da soja, o mercado prevê margens polpudas aos produtores brasileiros na safra 2012/13. A oleaginosa é o carro-chefe do agronegócio nacional há mais de uma década e poderá, assim, retomar a dianteira na colheita de grãos e fortalecer sua liderança no valor bruto da produção (VBP) agrícola e nas exportações do setor.
A avaliação do mercado é de que com o câmbio favorecido, os bons preços que marcaram o primeiro semestre levaram à aceleração das vendas antecipadas, o que define mais um ciclo de aumento da área de cultivo.
Conforme o jornal, a Céleres, consultoria com sede em Uberlândia (MG), calcula que 35% da soja que deverá ser colhida no País em 2012/13 já está comprometida com tradings e esmagadoras graças aos “excelentes patamares de preços pagos no mercado interno e à proximidade dos trabalhos de cultivo da nova safra”. A Safras & Mercado estima que 33% da futura produção nacional já esteja comprometida, com destaque para os elevados porcentuais em Mato Grosso (48%), Goiás (40%), Bahia (32%) e Minas Gerais (32%). Mesmo o Rio Grande do Sul, que historicamente antecipa pouco as vendas, já tem cerca de 15% da colheita esperada “travada”.
E se não bastasse tudo isso, não houve aumento significativo da área de cultivo nos EUA, maior produtor e exportador global, à frente do Brasil. E a seca e o calor estão afetando as lavouras americanas. Com isso, as cotações não pararam de subir, catapultadas por investimentos especulativos. Como se vê, pelo menos no que se refere à exportação de soja, não há crise. A perspectiva é de mais lucros para os produtores brasileiros — entre eles os goianos, claro.
Cezar Santos