Ações envolvem monitoramento, educação ambiental e arrecadação de equipamentos
Os graves incêndios florestais que atingiram a Chapada Diamantina em 2015 foram cenas que ninguém quer assistir novamente. Ao todo, foram 60 dias de combate e 312,5 km² (31.250 ha) de área do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) queimada. Isso sem falar nas áreas do entorno do Parque. A destruição de espécies raras, endêmicas e ameaçadas, além do impacto sobre as nascentes da bacia do Rio Paraguaçu , uma das mais importantes bacias hidrográficas da Bahia, foram as principais consequências dos incêndios.
A grandiosidade do PNCD (1.520 km²), o relevo acidentado, as condições climáticas severas na época da seca, a alta velocidade de propagação dos incêndios e a dificuldade de comunicação são alguns dos agravantes que tornam os combates na região extremamente complexos e arriscados. Levando tudo isto em consideração e a proximidade do período de estiagem (setembro a dezembro), foi definido pelo Conselho do Parque Nacional da Chapada Diamantina (CONPARNA-CD) que as ações de prevenção a incêndios são a prioridade para este semestre.
Formado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão gestor do PNCD; Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema); sociedade civil; empresários; entidades públicas, universidades, entre outros, o Conselho foi dividido em subgrupos que  ficarão responsáveis por diferentes temas, como: Educação ambiental, treinamento, infraestrutura, fiscalização/monitoramento e articulação institucional. Soraya Fernandes Martins, atual chefe do PNCD, ressalta que o engajamento da população local e das instâncias públicas e privadas é fundamental para o desenvolvimento e eficácia das ações: “entendemos que nenhuma instituição isolada poderá dar conta do desafio. O trabalho exige uma série de medidas por parte dos governos municipais, estadual, federal e sociedade civil.”

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Brigadistas posam ao lado do piloto Adonis Lopes em 2015| Foto: Divulgação

Conheça algumas medidas tomadas pelo ICMBio, CONPARNA-CD e instituições parceiras para a temporada de 2016:

Monitoramento
Os mirantes são importantes ferramentas para a detecção de focos de incêndios florestais, determinando sua localidade e definição da estratégia de combate. Para este ano, serão operados seis mirantes na região do Parque Nacional: três mirantes pelo ICMBio, em Batávia (Ibicoara), no Guiné e Capa Bode (Mucugê); um pelo Prevfogo/Ibama, em Rosely Nunes (Itaetê); um em Tanquinho (Lençóis), pelo Corpo de Bombeiros e um pela Brigada de Resgate Ambiental  de Lençóis (BRAL), na torre de Lençóis.
Segundo o Major BM Vianey, do Corpo de Bombeiros Militares, está em processo de licitação, pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), um helicóptero para rondas diárias de 2 horas nas áreas de risco. Ele acrescenta que há inclusive a indicação de recurso para atender essa demanda. “Como estes processos de editais dependem de muitas questões, ainda não posso dizer com precisão qual será o inicio de execução, mas a Diretoria Financeira da Sema está dando andamento ao processo”, explica.

Combate

cdf3A atuação dos brigadistas é fundamental para o sucesso do combate aos incêndios. A região do Parque Nacional conta com aproximadamente 200 brigadistas voluntários e 42 contratados por um período de seis meses. No mês de maio deste ano, o ICMBio realizou a formação de brigadistas voluntários e a contratação da Brigada do Parque Nacional. Foram capacitadas 92 pessoas em dois cursos, realizados em Palmeiras e Ibicoara. Para atuar como brigadista voluntário é necessário ter mais de 18 anos e possuir curso de formação.
Para que os combates sejam eficazes, os brigadistas necessitam de uma série de equipamentos e insumos, como: bombas costais; abafadores; ferramentas para aceiro; Equipamentos de Proteção Individual (EPIs); equipamentos de comunicação, que são as principais necessidades atualmente; combustível; alimentação adequada; medicamentos; entre outros. Diante da carência de alguns materiais, o CONPARNA-CD criou uma plano de arrecadação de equipamentos que possibilitará que empresas interessadas possam contribuir. Vale ressaltar que a campanha realizada pela Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis (BRAL) no último ano teve um resultado bastante satisfatório. Foram mais de 900 doações, durante dois meses de campanha, com a arrecadação de R$ 77 mil,  investidos na construção da nova sede da brigada e na compra de equipamentos. “Para se ter uma ideia da importância das doações e da mobilização popular, apesar de todas as dificuldades, conseguimos, juntamente com as outras brigadas da região, que todos os focos de incêndios localizados dentro do Parque fossem debelados antes das chuvas de janeiro”, afirma Diego Serrano, representante da BRAL no Conselho Municipal de Meio Ambiente.
O excedente de doações (alimentos, equipamentos, EPIs, etc) foram integralmente repassados às outras brigadas municipais, igualmente comprometidas com a defesa do meio ambiente, como: Vale do Capão, Seabra, Mucugê, Campos do São João, Rumo e Baixão da Colônia (Itaetê).

Educação Ambiental
A maioria dos incêndios florestais na região é causada pelo homem, seja por práticas indevidas da pecuária, agricultura e caça; pelo descuido de turistas ou pelo simples objetivo de causar incêndios. Fenômenos naturais, com focos iniciados por raios existem, mas eles são relativamente pouco frequentes. Com o intuito de diminuir e até extinguir estas práticas nos próximos anos serão desenvolvidos diversos projetos de educação ambiental na região, como: cartilhas informativas, palestras nas escolas, cartazes e programas de rádio.
“A educação ambiental é um dos pilares do Plano de Prevenção a incêndios florestais. É consenso também que uma comunicação sensível, clara e ilustrativa é capaz de causar modificações sociais e culturais. Por isso, a campanha vem informar a importância de todos zelarem pelas nossas matas e nascentes, a fim de mantermos o ambiente propício para a sobrevivência de todos”, comenta Margareth Branca Pires, diretora da Flora Comunicação, empresa membro do CONPARNA-CD, prestadora voluntária de assessoria de comunicação ao Conselho e que desenvolverá o design, a elaboração e a divulgação da campanha.
De acordo com Tatiana Portela, Secretária de Turismo de Ibicoara, o município já iniciou algumas ações de educação ambiental, como: mensagens educativas em carros de som, distribuição de panfletos informativos e palestras nas zonas rurais. “Estamos priorizando as comunidades onde tiveram o maior número de focos de incêndios provocados pelo mau uso do fogo pelo agricultor. Estamos também capacitando brigadistas comunitários para atuarem especificamente nestas regiões”, comenta.